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authorSilvio Rhatto <rhatto@riseup.net>2018-08-07 10:05:58 -0300
committerSilvio Rhatto <rhatto@riseup.net>2018-08-07 10:05:58 -0300
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-[[!meta title="O Livro da Dor e do Amor"]]
-
-* Autor: J. D. Nasio.
-* Ano: 210.
-* Editora: Zahar.
-
-## Trechos
-
- A imagem do ser perdido não deve se apagar; pelo
- contrário, ela deve dominar até o momento em que — graças ao luto
- — a pessoa enlutada consiga fazer com que coexistam o amor pelo
- desaparecido e um mesmo amor por um novo eleito. Quando essa
- coexistência do antigo e do novo se instala no inconsciente, podemos
- estar seguros de que o essencial do luto começou.
-
- -- 13
-
- Eu também estava surpreso de ter
- expresso espontaneamente, em tão poucas palavras, o essencial da
- minha concepção de luto, segundo a qual a dor se acalma se a pessoa
- enlutada admitir enfim que o amor por um novo eleito vivo nunca
- abolirá o amor pelo desaparecido.
-
- -- 14
-
- dar um sentido à dor do outro significa, para o psicanalista,
- afinar-se com a dor, tentar vibrar com ela, e, nesse estado de resso-
- nância, esperar que o tempo e as palavras se gastem.
-
- -- 16
-
- Ao longo destas páginas, gostaria de transmitir o que eu próprio aprendi,
- isto é, que a dor mental não é necessariamente patológica; ela baliza
- a nossa vida como se amadurecêssemos a golpes de dores sucessivas.
-
- -- 17-18
-
- Para quem pratica a psicanálise, revela-se com toda a evidência —
- graças à notável lente da transferência analítica — que a dor, no coração
- do nosso ser, é o sinal incontestável da passagem de uma prova. Quando
- uma dor aparece, podemos acreditar, estamos atravessando um limiar,
- passamos por uma prova decisiva. Que prova? A prova de uma
- separação, da singular separação de um objeto que, deixando-nos súbita
- e definitivamente, nos transtorna e nos obriga a reconstruir-nos.
-
- -- 18
-
- O luto
- do amado é, de fato, a prova mais exemplar para compreender a natureza
- e os mecanismos da dor mental. Entretanto, seria falso acreditar que a
- dor psíquica é um sentimento exclusivamente provocado pela perda de
- um ser amado. Ela também pode ser dor de abandono, quando o amado
- nos retira subitamente o seu amor; de humilhação quando somos
- profundamente feridos no nosso amor-próprio; e dor de mutilação
- quando perdemos uma parte do nosso corpo. Todas essas dores são,
- em diversos graus, dores de amputação brutal de um objeto amado, ao
- qual estávamos tão intensa e permanentemente ligados que ele regulava
- a harmonia do nosso psiquismo. A dor só existe sobre um fundo de amor.
-
- -- 18
-
- Antes de tudo, a dor é um afeto, o derradeiro
- afeto, a última muralha antes da loucura e da morte. Ela é como que
- um estremecimento final que comprova a vida e o nosso poder de nos
- recuperarmos. Não se morre de dor. Enquanto há dor, também temos
- as forças disponíveis para combatê-la e continuar a viver. É essa noção
- de dor-afeto que vamos estudar nos primeiros capítulos.
-
- -- 19-20
-
- Quer se trate de uma dor corporal provocada por uma lesão dos
- tecidos ou de uma dor psíquica provocada pela ruptura súbita do laço
- íntimo com um ser amado, a dor se forma no espaço de um instante.
- Entretanto, veremos que a sua geração, embora instantânea, segue um
- processo complexo. Esse processo pode ser decomposto em três tem-
- pos: começa com uma ruptura, continua com a comoção psíquica que
- a ruptura desencadeia, e culmina com uma reação defensiva do eu para
- proteger-se da comoção. Em cada uma dessas etapas, domina um
- aspecto particular da dor.
-
- -- 20
-
- Como diferencia ele cada um desses afetos? Propõe o
- seguinte paralelo: enquanto a dor é a reação à perda
- efetiva da pessoa amada, a angústia é a reação à
- ameaça de uma perda eventual.
-
- -- 27
-
- Mas qual é essa reação? Diante do transtorno pul-
- sional introduzido pela perda do objeto amado, o eu
- se ergue: apela para todas as suas forças vivas —
- mesmo com o risco de esgotar-se — e as concentra
- em um único ponto, o da representação psíquica do
- amado perdido. A partir de então, o eu fica inteira-
- mente ocupado em manter viva a imagem mental do
- desaparecido. Como se ele se obstinasse em querer
- compensar a ausência real do outro perdido, magnifi-
- cando a sua imagem. O eu se confunde então quase
- totalmente com essa imagem soberana, e só vive
- amando, e por vezes odiando a efígie de um outro
- desaparecido.
-
- -- 28