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\title{A ajuda m�ltipla e o valor social}
\author{Silvio Rhatto (rhatto em riseup.net)}

\begin{document}\label{start}
\maketitle

\begin{abstract}
Procurando resolver um problema pr�tico, este texto sistematiza uma forma de promover a ajuda m�ltipla atrav�s de acordos sucessivos e virais. Para auxiliar na sua compreens�o, � definida uma forma de c�lculo do valor social e suas consequ�ncias s�o avaliadas.
\end{abstract}

\section{Motiva��o}

Em geral, quando ajudamos algu�m (principalmente quando ensinamos algo), n�o h� muita garantia que a pessoa ajudada passar� a id�ia pra frente, seja ajudando outrem ou passando o conhecimento adiante. Mesmo em coletivos horizontais, n�o-hier�rquicos e baseados na ajuda m�tua, n�o h� necessariamente uma cultura de passar para frente a ajuda recebida. Por isso, estabelecemos neste texto uma sugest�o de acordos de ajuda m�ltipla tanto como proposta de pr�tica e sobretudo como reflex�o da dist�ncia que os grupos sociais se encontram com rela��o a um regime de d�divas e n�o-escassez.

\section{O acordo de ajuda m�ltipla}

Para fomentar o aumento da ajuda entre as pessoas, criaremos o conceito de \emph{ajuda m�ltipla} e proporemos um pequeno acordo padr�o para o seu estabelecimento. Pois bem: \emph{ajuda m�ltipla � a forma de colabora��o onde uma ou mais pessoas (grupo A) auxiliam outras (grupo B) com a condi��o de que estas �ltimas efetuem ajuda m�ltipla auxiliando outras pessoas (grupo C)}. Atente para o fato de que defini��o � \emph{recursiva} (isto �, a defini��o necessita de sua pr�pria defini��o): uma ajuda m�ltipla seria, por exemplo, Maria ajudar Lopes com a condi��o de que este ajude algu�m no futuro. Note que o grupo C pode ser composto pelas mesmas pessoas do grupo A, mas n�o necessariamente: Lopes deve ajudar algu�m, mas n�o necessariamente Maria\footnote{Notar que esta defini��o de ajuda m�ltipla n�o � necessariamente equivalente � de ajuda m�tua utilizada em muitos estudos sobre economia da d�diva: em alguns deles, a ajuda m�tua ocorre quando cada uma das partes envolvidas no acordo deve se ajudar reciprocamente, enquanto que na ajuda m�ltipla isso n�o � necess�rio. N�o pretendemos neste texto sugerir a suposta superioridade do conceito de ajuda m�ltipla sobre a ajuda m�tua. Muito pelo contr�rio: na falta de um devido estudo sobre a literatura existente, preferimos utilizar um termo distinto da ajuda ou apoio m�tuo (mas que eventualmente possa ter o mesmo significado).}.

\subsection{Viralidade (ou pot�ncia) do acordo}

Estamos interessados/as na possibilidade da multiplica��o da ajuda e, para tanto, devemos melhorar nossa defini��o de ajuda m�ltipla: ajuda m�ltipla � a forma de colabora��o onde uma ou mais pessoas (grupo A) auxiliam outras (grupo B) com a condi��o de que estas �ltimas efetuem \emph{pelo menos $v$ ajudas m�ltiplas} (onde $v$ � um n�mero inteiro positivo) auxiliando outras pessoas (grupo C, D, E, etc) com a condi��o de que as pr�ximas pessoas tamb�m pratiquem ajuda m�ltipla e assim por diante.

Nesta segunda defini��o, introduzimos o que chamaremos de \emph{viralidade}: n�o apenas a pessoa ajudada precisa participar de pelo menos mais $v$ acordos de ajuda como as pessoas ajudadas por esses pr�ximos $v$ acordos precisam, ap�s serem ajudadas, participarem como ajudantes em pelo menos mais $v$ acordos\footnote{� claro que o valores de $v$ podem ser estipulados em cada acordo.}.

A id�ia principal da viralidade � que ela representa o custo social de uma ajuda: se recebo uma ajuda, devo retribuir n�o exatamente a quem me ajuda mas a todo o grupo social, participando como ajudante em pelo menos $v$ outros acordos.

Por isso, os acordos n�o devem ser entendidos como moedas de troca: a moeda abstrai e aliena as rela��es sociais -- j� que pode ser trocada -- enquanto que o acordo refor�a e encoraja rela��es sociais. A moeda conserva valor (uma vez que ela � criada, basta que circule)\footnote{Por \emph{conservar valor} n�o queremos dizer que a moeda n�o sofre valoriza��o e desvaloriza��o, mas sim que a moeda ``congela'' trabalho.}. Os acordos, ao contr�rio, geram valor o tempo todo por causa de sua viralidade. Eles criam valor social sem precisarem ser trocados, j� que eles se reproduzem. Assim, devem ser entendidos mais na l�gica da d�diva do que do contrato social.

\subsection{Modelo de acordo viral}

Na pr�tica, conv�m termos um modelo de acordo para facilitar o dia-a-dia: pessoas nos pedem ajuda e em geral precisamos dar uma resposta r�pida. Um modelo de acordo -- onde o/a proponente pode ser qualquer uma das partes envolvidas e os acordos podem ser de m�ltiplas partes -- deve ser simples e eficaz e por isso o texto do modelo de acordo abaixo serve para criar pequenos acordos entre pessoas:

\begin{verbatim}
Acordo de ajuda m�ltipla
------------------------

O/a proponente/a deste acordo tem como objetivo multiplicar seus esfor�os de
ajuda. Para tal, � utilizado o princ�pio da reprodu��o viral de atividades
culturais.

Neste acordo, as pessoas ajudantes concordam a ajudar as pessoas, doravante
denominadas como ajudadas, desde que as ajudadas concordem em participar como
ajudantes em pelo menos X pr�ximos acordos deste mesmo tipo (nos quais, por sua
vez, as pessoas ajudadas dever�o participar como ajudantes em pelo menos X
acordos deste mesmo tipo e assim sucessivamente).

A copntrapartida n�o precisa ser necessariamente no mesmo teor da ajuda
prestada.
\end{verbatim}

Esse modelo de acordo n�o pretende apenas incentivar a iniciativa e o protagonismo como tamb�m encorajar quem n�o ajuda ou n�o pede ajuda por conta de algum receio. N�o podemos tamb�m deixar de mencionar que estes tipos de acordo s� fazem sentido e apenas ser�o necess�rios enquanto a ajuda m�tua/m�ltipla n�o for uma pr�tica cultural comum e generalizada, quando ent�o a pr�tica descartar� a necessidade de microacordos.

O modelo acima � apenas uma sugest�o: muitos outros podem ser feitos e inclusive � poss�vel ainda tornar tais acordos acopl�veis em licen�as de manipula��o de conte�do. Desde que os acordos funcionem para criarem valor no grupo social, t�o melhor. Sugest�es de melhoria desse modelo seriam abrir margem para uma melhor defini��o de contrapartidas e estipular um prazo para que o acordo seja cumprido. Sugerimos que ao menos a simplicidade, a clareza e o tamanho reduzido do acordo sejam preservados.

\section{O valor social}

Como se comportaria um grupo social onde tal pr�tica de acordos se iniciasse ou fosse j� end�mica? Para nos auxiliar nesta e noutras perguntas, podemos recorrer a um m�nimo de sistematiza��o. Considerando um grupo social de $m$ pessoas, podemos definir a fun��o \emph{valor social} como sendo

\begin{equation}
\label{eq:valor_draft}
S = \displaystyle\sum_{p=1}^{m}\frac{\left(p\ n_p\right)^{v}}{mr}
\end{equation}

onde $n_p$ � a quantidade de acordos existentes envolvendo $p$ pessoas\footnote{Come�amos nossa somat�ria com $p = 1$ pois, apesar de ser um caso em princ�pio bizarro (uma pessoa fazendo acordo consigo mesmo), n�o deixa de ser uma possibilidade: posso, por exemplo, fazer um acordo comigo mesmo e, caso o cumpra, ajudarei mais pessoas, sendo caso cl�ssico disso � a solidariedade de ex-viciados, por exemplo. Outro argumento para manter $p = 1$ � a simplicidade.}, cada acordo com viralidade\footnote{Poder�amos, � claro, supor um sistema onde cada acordo tivesse uma viralidade $v$ pr�pria, mas a complexidade do c�lculo seria desnecess�ria para esta primeira exposi��o do assunto.} $v$ e $r < m$ � o n�mero de pessoas que \emph{poderiam}\footnote{Que fique claro: $r$ n�o inclui pessoas que n�o podem ajudar, mas apenas as que podem mas que ficaram de fora dos acordos.} ter efetuado acordos mas que ficaram de fora (isto �, n�o fizeram acordo nenhum). O valor social assim definido exibe uma s�rie de propriedades interessantes sob o ponto de vista das intera��es sociais, que pode ser revelado pela simples an�lise das componentes da somat�ria.

Primeiramente, esse valor � uma propriedade do sistema social como um todo e n�o de um ou outro indiv�duo. Em segundo lugar, quanto mais acordos envolvendo m�ltiplas partes, maior ser� o valor social: muitos acordos entre poucas partes podem ter um peso menor do que poucos acordos entre m�ltiplas partes. Um grupo social com muitos acordos de m�ltiplas partes possui maior a��o coletiva (maior participa��o coletiva, maior coletividade) do que uma sociedade com acordos entre apenas poucas partes.

J� a quantidade $m$ de pessoas do grupo e o total $r$ de pessoas que n�o participaram de nenhum tipo de acordo contribuem na diminui��o do valor social: se poucas pessoas (em rela��o ao total $m$) fazem acordo, temos uma sociedade com pouca ajuda m�ltipla e, portanto, para que $S$ atinja valores significativos, � preciso que $m$ se torne quantitativamente menor em rela��o aos valores dos componentes $\left(p\ n_p\right)^{v}$. O mesmo vale para $r$: os componentes devem ser mais significativos do que a quantidade de pessoas que poderiam estar em acordos mas que ficaram de fora, ou seja, $S$ leva em conta a inclus�o ou exclus�o social da a��o coletiva\footnote{Alternativamente, poder�amos definir o divisor como $m^r$ ao inv�s de $mr$, o que faria com que $S$ fosse muito mais sens�vel � inclus�o ou exclus�o social. Optamos, no entanto, por uma abordagem em que $m$ e $r$ contribuem com igual teor.}.

Por fim, a viralidade potencializa a multiplica��o de acordos: quanto maior for a viralidade, maior � o valor dos acordos, pois cada acordo � um acordo de ajuda futura e portanto de investimento na potencialidade das a��es coletivas.

Poder�amos ter definido um valor social de outra forma, mas sabemos que n�o h� defini��o de valor que n�o haja um prop�sito e muito menos h� uma defini��o sob a qual todas as outras se reduzem: o valor � uma propriedade definida pelo grupo social e deve servir a este: devemos buscar defini��es e conven��es de valor (ou tamb�m suas indefini��es) que nos sirvam. N�o s� acreditamos que esta teoria do valor sirva para mostrar como a ajuda m�ltipla implica numa maior a��o coletiva como ainda exibe propriedades interessant�ssimas do ponto de vista de sistemas din�micos.

Por simplifica��o, podemos reescrever a equa��o anterior como

\begin{equation}
\label{eq:simples}
S = k\displaystyle\sum_{p=1}^{m}\left(p\ n_p\right)^{v}
\end{equation}

onde $k = \frac{1}{mr}$. � claro que o valor de $k$ pode mudar num dado grupo social -- por exemplo: mais pessoas ingressando ou saindo do grupo ou ent�o com um aumento ou diminui��o de protagonistas de acordos -- mas podemos consider�-lo como constante num dado momemto, ou seja, $k = k(t)$ e independente de outras vari�veis.

O que realmente nos interessa agora, no entanto, � que chega um momento em que o grupo social est� com tantos acordos que, da forma como definimos na equa��o \ref{eq:simples}, $S$ come�a a crescer absurdamente e j� n�o passa a representar o valor efetivo de um corpo social onde a ajuda m�ltipla se faz presente. Em outras palavras: chega um momento em que as pessoas j� est�o t�o endividadas de acordos a cumprir que mais d�vidas n�o afetar�o consideravelmente no seu comportamento de ajuda m�ltipla. Para refrear o crescimento indiscriminado de $S$, redefiniremos nossa fun��o como

\begin{equation}
\label{eq:valor}
S = k\ ln\displaystyle\sum_{p=1}^{m}\left(p\ n_p\right)^{v}
\end{equation}

onde $ln$ cumpre um amortecimento no crescimento da somat�ria, mostrando que o valor efetivo do grupo cresce logaritmicamente: temos um r�pido crescimento do valor conforme os acordos se iniciam e se multiplicam e, conforme o endividamento social cresce, a sociedade atinge patamares de valor altos demais para que um maior acr�scimo se torne significativo.

Temos que, pela pr�pria defini��o, $S$ � uma fun��o de estado, uma vez que, definido um grupo social e suas intera��es a partir das vari�veis $n$, $m$, $v$, $r$, etc, temos que $S$ � um indicativo do estado do sistema -- indicando, por exemplo, se ele possui mais ou menos acordos (e qual a pot�ncia e alcance dos acordos) do que outro grupo social igualmente caracterizado. Al�m disso, obedece a

\begin{equation}
\frac{dS}{dt} \geq 0
\end{equation}

Portanto, chamaremos nossa �ltima defini��o de $S$ (equa��o \ref{eq:valor}) como \emph{entropia econ�mica do grupo social}. Tal entropia mede, inicialmente, \emph{o grau de endividamento do corpo social}. O endividamento � ent�o a �nica forma de ac�mulo poss�vel: uma vez que algu�m ajuda outrem, n�o � essa pessoa que det�m um cr�dito: muito pelo contr�rio, as pessoas ajudadas contraem uma d�vida com todo o corpo social, j� que os acordos estipulam que a pessoa ajudada deve ajudar qualquer outra pessoa e n�o necessariamente quem a ajudou.

A entropia tem sido fonte de controversias e mal-entendidos quanto � sua interpreta��o. Pela nossa defini��o, temos que uma entropia maior se deve exclusivamente a um aumento da complexidade do sistema social, complexidade que medimos utilizando um conjunto de vari�veis que consideramos como caracter�sticas do sistema\footnote{Num sistema mais pr�ximo da realidade ter�amos trocentas outras vari�veis.} que de algum modo representam o seu estado. Aqui, utilizamos n�mero de acordos, viralidade dos acordos, etc, o que caracteriza uma abordagem de \emph{granula��o grosseira}, ou seja, de baixa resolu��o. Um c�lculo de valor com maior resolu��o deveria levar em considera��o, por exemplo, os acordos separadamente ao inv�s de agrup�-los por partes envolvidas.

\section{Descontrole social}

Esta se torna ent�o uma teoria do descontrole social: o aumento da entropia �, aqui, n�o s� ben�fica como desej�vel, j� que ela indica um aumento do n�mero de intera��es. Se nas teorias do controle a entropia tem um aumento indesej�vel, aqui se torna o comportamento almejado.

Sendo os acordos diretos, isto �, n�o mediados, temos ainda mais descontrole: � important�ssimo que tais acordos n�o sejam mediados por bancos de dados. Por banco de dados entendemos qualquer iniciativa de tentar \emph{efetivamente} calcular $S$ para um dado grupo social (e n�o o registro pessoal que cada indiv�duo mantiver a respeitodos acordos que participou). A mera exist�ncia de um banco de dados centralizado capaz de calcular a cada instante o valor social tem os seguintes riscos:

\begin{itemize}
\item D� margens para o estabelecimento de controles sociais com a identifica��o das pessoas mais protagonistas (que participam de mais acordos), das pessoas mais prestativas (as que mais ajudam), as que mais s�o ajudadas e as que menos contribuem com a��es coletivas, possibilitando assim repres�lias, etc.
\item Se, por um lado, o banco de dados ``facilita'' a busca de pessoas que querem ajuda e que podem ajudar, por outro diminuem a necessidade das pessoas de travarem contato pessoal para iniciarem seus acordos, j� que o banco de dados detecta e aproxima as pessoas automaticamente.
\item Acredita-se que seja de interesse do grupo social que a pr�tica da ajuda m�ltipla fa�a parte da sua cultura e n�o uma depend�ncia do banco de dados (o que seria um culto ao banco de dados).
\end{itemize}

� com esse sentido de oposi��o aos bancos de dados que estabelecemos o conceito de valor social: n�o nos interessa calcular efetivamente o valor de $S$ para um dado grupo social e muito menos caracterizar cada grupo em fun��o desses par�metros, o que al�m de policialesco n�o representa o real valor social do grupo (afinal, nem discutimos as diferen�as qualitativas de cada acordo). Queremos, ao contr�rio, mostrar \emph{como se comporta} um grupo social adepto de acordos virais de ajuda m�ltipla. Podemos resumir isso com a seguinte express�o: \emph{criamos um c�lculo para auxiliar na compreens�o o valor social mas jamais queremos que ele seja usado para quaintific�-lo}, mesmo porque muitos valores escapam da f�rmula que estabelecemos. N�o necessitamos de um banco porque, na ajuda m�ltipla, o sistema banc�rio j� emerge do pr�prio tecido social.

\section{Desdobramentos}

N�o sabemos os desdobramentos desta teoria do valor e desta pr�tica de acordos aqui sugeridas. Num primeiro momento, podemos vislumbrar que, no limite desta teoria, o endividamento excessivo devido a acordos deve produzir uma pr�tica social indistingu�vel de uma economia de d�divas onde n�o h� expectativa de retribui��o direta ou o uso da d�diva como demonstra��o de poder\footnote{O uso da d�diva como demonstra��o de poder seria, por exemplo uma pessoa com mais recursos dar um presente a outra com menos recursos de forma que seja causado um v�nculo de rela��o seja paternalista, humilhante, etc.}. No caso da pedagogia tamb�m podemos vislumbrar um �timo uso da ajuda m�ltipla: pessoas que aprenderam algo podem ensinar para outras, multiplicando o conhecimento ao inv�s de sempre recorrerem aos luminares do saber.

Por outro lado, a exist�ncia e a propaga��o dos acordos pressup�em um grupo social pertencente a redes de relacionamentos afins, o que em certo sentido limita a aplica��o da ajuda m�ltipla: e quem n�o participa da rede? E no caso de grupos em conflito interno?

Estas s�o apenas sugest�es de desdobramentos poss�veis: convidamos todas as pessoas que queiram contribuir para a an�lise de regimes econ�micos fora do mercado para que pensem conjuntamente no que aqui foi meramente delineado. A experimenta��o tamb�m � encorajada: sem ela, toda esta de discuss�o n�o passa de uma teoria descolada dos grupos sociais.

\section{Distribui��o deste texto}

Este texto � manipul�vel segundo a \emph{Licen�a de Manipula��o de Informa��es do Coletivo Sarav�}, dispon�vel tamb�m em \emph{http://www.sarava.org/copyleft} e que atribui ao detentor/a da informa��o as seguintes liberdades:

\begin{enumerate}
\item A liberdade de armazenar a informa��o.
\item A liberdade de manipular a informa��o.
\item A liberdade de distribuir a informa��o, modificada ou n�o. 
\end{enumerate}

Com as seguintes observa��es:

\begin{enumerate}
\item Desde que esta licen�a acompanhe a informa��o.
\item Desde que para fins n�o-comerciais.
\item Desde que a fonte seja citada.
\item Caso o conte�do seja distribu�do por voc�, o Coletivo Sarav� deve ser notificado antecipadamente (sarava em lists.riseup.net).
\item Caso ocorra uma modifica��o, distribuir a informa��o modificada e notificar antecipadamente o Coletivo Sarav�. 
\item O Coletivo Sarav� pode a qualquer momento revogar o licenciamento da informa��o para uma determinada pessoa ou entidade. 
\end{enumerate}

\end{document}