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authorSilvio Rhatto <rhatto@riseup.net>2021-01-24 20:09:29 -0300
committerSilvio Rhatto <rhatto@riseup.net>2021-01-24 20:09:29 -0300
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-rw-r--r--books/philosophy/cidade-perversa.md66
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index b9c389f..d725442 100644
--- a/books/philosophy/cidade-perversa.md
+++ b/books/philosophy/cidade-perversa.md
@@ -339,7 +339,7 @@ do nosso nascimento prematuro:
229
Três respostas básicas seriam possíveis: do neurótico, do perverso e do psicótico:
-
+
Dessa estrutura circular em que o um (s) supõe o Outro (S) que “sub-põe” o um,
é possível sair de três maneiras: pela neurose, pela perversão ou pela psicose.
O que retoma em novas condições a intuição de Freud, que havia distinguido três
@@ -348,43 +348,43 @@ Três respostas básicas seriam possíveis: do neurótico, do perverso e do psic
1. Neurose: "dívida simbólica contraída em relação ao Outro", lembando que "sujeito"
vem de "sujeição", de se sujeitar:
- Se a histeria constitui o protótipo da neurose, é porque o(a) histérico(a) é
- aquele(a) que venera o Outro por lhe ter tudo dado e ao mesmo tempo o detesta
- por tê-lo(a) posto na situação de tanto e tudo lhe dever. Ele/ela amará o Outro
- detestando-o ou o detestará amando-o. É o lugar de um nó psíquico importante,
- no qual constantemente se remotiva o conflito neurótico em todas as suas formas
- possíveis. Por exemplo, esta, que faz as delícias do histérico: seduzir o Outro
- — sob a figura de Deus, de um mestre, de um grande homem, etc. — ao mesmo tempo
- escapando-lhe.
+ Se a histeria constitui o protótipo da neurose, é porque o(a) histérico(a) é
+ aquele(a) que venera o Outro por lhe ter tudo dado e ao mesmo tempo o detesta
+ por tê-lo(a) posto na situação de tanto e tudo lhe dever. Ele/ela amará o Outro
+ detestando-o ou o detestará amando-o. É o lugar de um nó psíquico importante,
+ no qual constantemente se remotiva o conflito neurótico em todas as suas formas
+ possíveis. Por exemplo, esta, que faz as delícias do histérico: seduzir o Outro
+ — sob a figura de Deus, de um mestre, de um grande homem, etc. — ao mesmo tempo
+ escapando-lhe.
2. Psicose: o caso-limite, "mais onerosa. Ela diz que se Deus é, então eu não sou":
- Um combate que pode assumir duas formas opostas e complementares. Uma forma
- paranoica, como tal perseguida: existe um Deus que está constantemente querendo
- roubar meu ser, que me espiona e me persegue. E uma forma esquizofrênica e
- triunfante: Deus, na verdade, sou eu. Nos dois casos, essa potência
- manifesta-se como sobrenatural, o mais das vezes através de uma voz imperiosa
- que ocupa o sujeito, no sentido de tomar posse dele, de se apoderar dele.
+ Um combate que pode assumir duas formas opostas e complementares. Uma forma
+ paranoica, como tal perseguida: existe um Deus que está constantemente querendo
+ roubar meu ser, que me espiona e me persegue. E uma forma esquizofrênica e
+ triunfante: Deus, na verdade, sou eu. Nos dois casos, essa potência
+ manifesta-se como sobrenatural, o mais das vezes através de uma voz imperiosa
+ que ocupa o sujeito, no sentido de tomar posse dele, de se apoderar dele.
3. Perversão:
- Quanto à enunciação perversa, ela se esclarece nesse esquema. Ela permite
- entender que o que está em jogo no grande circuito enunciativo (com o “Ele”)
- vem a atuar no pequeno, de tal maneira que o “eu” ocupe, diante do “tu”, a
- posição eminente que o “Ele” ocupa em relação a todo sujeito falante (“eu” e
- “tu”). Em suma, o perverso coloca-se, diante de todo outro, na posição do
- Outro. A definição poderá ser estranhada. Mas seria um equívoco, pois ela
- encontra e confere sentido à maneira como Lacan definia o perverso: “O perverso
- imagina ser o Outro para garantir seu gozo.”302 De fato, essa proposição só
- pode ser realmente entendida mobilizando-se as teorias da enunciação baseadas
- na análise da relação de lugar entre as três pessoas verbais: “eu” (o um), “tu”
- (o outro) e “Ele” (o Outro). A perversão surge então como uma negação da grande
- estrutura, compensada por um inchaço da pequena, como se essa estrutura
- secundária pudesse e devesse suportar sozinha o que está em jogo na grande.
- Poderíamos falar aqui de uma translação do que está em jogo na estrutura
- principal para a estrutura secundária. O que, provavelmente, explica a
- seriedade com que o perverso maquina suas encenações, às vezes deploráveis,
- como se ele ocupasse diante de seu alter ego o lugar do Outro.
+ Quanto à enunciação perversa, ela se esclarece nesse esquema. Ela permite
+ entender que o que está em jogo no grande circuito enunciativo (com o “Ele”)
+ vem a atuar no pequeno, de tal maneira que o “eu” ocupe, diante do “tu”, a
+ posição eminente que o “Ele” ocupa em relação a todo sujeito falante (“eu” e
+ “tu”). Em suma, o perverso coloca-se, diante de todo outro, na posição do
+ Outro. A definição poderá ser estranhada. Mas seria um equívoco, pois ela
+ encontra e confere sentido à maneira como Lacan definia o perverso: “O perverso
+ imagina ser o Outro para garantir seu gozo.”302 De fato, essa proposição só
+ pode ser realmente entendida mobilizando-se as teorias da enunciação baseadas
+ na análise da relação de lugar entre as três pessoas verbais: “eu” (o um), “tu”
+ (o outro) e “Ele” (o Outro). A perversão surge então como uma negação da grande
+ estrutura, compensada por um inchaço da pequena, como se essa estrutura
+ secundária pudesse e devesse suportar sozinha o que está em jogo na grande.
+ Poderíamos falar aqui de uma translação do que está em jogo na estrutura
+ principal para a estrutura secundária. O que, provavelmente, explica a
+ seriedade com que o perverso maquina suas encenações, às vezes deploráveis,
+ como se ele ocupasse diante de seu alter ego o lugar do Outro.
Os modos de operação individuais variariam de acordo com a ênfase dos caminhos
do circuito de enunciação subjetiva.
@@ -398,7 +398,7 @@ produção e o consumo capitalistas.
Resumiria o livro com o trocadilho: "Sade, Smith e Lacan: um laço realmente estranho, mas não eterno".
E poderíamos pensar em outros tipos de diagramas e máquinas possíveis para a constituição
-da relação sujeito/objeto/outro, com Sujeito-Deus, Sujeito-Leviatã, e até de Sujeito como composto
+da relação sujeito/objeto/outro, com Sujeito-Deus, Sujeito-Leviatã, e até de Sujeito como composto
por redes de `eu <-> tu`, incluindo também outros seres. Teríamos assim a possibilidade de
inúmeras montagens e configurações de redes relacionais, hierárquicas, anárquicas, poliárquicas...
uma modelagem desse tipo poderia ajudar na análise de dinâmicas sociais.