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author | Silvio Rhatto <rhatto@riseup.net> | 2016-11-26 10:50:48 -0200 |
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Por outro lado, impelido contra uma parede sem saída, um homem apenas - conhece a raiva de destruí-la ou de quebrar nela a cabeça, o que não deixa de - ser lamentável para uma boa organização social (mesmo se o suicida não tiver a - feliz idéia de se matar no estilo dos príncipes orientais, levando com ele - todos os seus servos: juízes, bispos, generais, - policiais, psiquiatras, filósofos, managers, especialistas e cibernéticos). - - -- 36 - - Assim que o líder do jogo se torna um chefe, o princípio hierárquico se salva, e a revolução - se detém para presidir o massacre dos revolucionários. É preciso lembrar sempre: o projeto - insurrecional só pertence às massas, o líder reforça-o, o chefe o trai. É entre o líder e o - chefe que inicialmente se desenrola a luta autêntica. - - -- 37 - - Resumindo, a descompressão nada mais é do que o controle dos antagonismos pelo poder. - A oposição de dois termos toma sentido pela introdução de um terceiro. Se só existem dois - pólos, eles se neutralizam, uma vez que cada um se define pelos valores do outro. É - impossível escolher entre eles, entra-se no domínio da tolerância e do relativismo, tão - querido à burguesia. Como é compreensível o interesse da hierarquia apostólica romana na - querela entre o maniqueísmo e o trinitarismo! - - -- 38 - - O poder aquisitivo é a licença de aquisição do poder. O velho proletariado vendia a força - de trabalho para subsistir; o seu escasso tempo livre era gasto mais ou menos de maneira - agradável em discussões, conversas, nos bares, fazendo amor, caminhando em festas e - motins. O novo proletariado vende a força de trabalho para consumir. Quando não - busca no trabalho forçado uma promoção hierárquica, o trabalhador é convidado a comprar - objetos (carro,gravata,cultura...) que lhe atribuirão o seu lugar na escala social. Esta é a era - em que a ideologia do consumo se torna o consumo da ideologia. A expansão cultural leste- - oeste não é um acidente. De um lado, o homo consumidor compra um litro de uísque e - recebe como prêmio a mentira que o acompanha. Do outro, o homem comunista compra - ideologia e recebe como prêmio um litro de vodca. Paradoxalmente, os regimes soviéticos e - capitalistas seguem um caminho comum, os primeiros graças à sua economia de produção, - os segundos pela sua economia de consumo. - - -- 46 - - Com as diferenças crescendo em número e se tornando menores, a distância - entre ricos e pobres diminui de fato, e a humanidade é nivelada, com as - variações de pobreza sendo as únicas variações. O ponto culminante seria a - sociedade cibernética composta de especialistas hierarquizados segundo a sua - aptidão de consumir e de fazer consumir as doses de poder necessárias ao - funcionamento de uma gigantesca máquina social da qual eles seriam ao mesmo - tempo a entrada e a saída de dados. Uma sociedade de exploradores-explorados - onde alguns escravos são mais iguais do que outros. - - -- 47 - - A história é a transformação contínua da alienação natural em alienação social, - e também, paradoxalmente, o contínuo reforço de um movimento de contestação que - irá dissolvê-la, “desalienando-a”. A luta histórica contra a alienação natural - transforma a alienação natural em alienaçao social, mas o movimento de - desalienação histórica atinge por sua vez a alienação social e denuncia a sua - magia fundamental. - - [...] - - O apodrecimento das relações humanas pela troca e pela contrapartida está - evidentemente ligado à existência da burguesia. Que a troca persista em uma - parte do mundo em que se diz que a sociedade sem classes se realizou atesta que - a sombra da burguesia continua reinar debaixo da bandeira vermelha. Enquanto - isso, entre as pessoas que vivem nos países industrializados, o prazer de dar - delimita muito claramente a fronteira entre o mundo do cálculo e o mundo da - exuberância, da festa. - - -- 49 - - Dom, troca, contrapartida e doação. - - -- 49 - - Técnica. - - -- 50 - - Desse ponto de vista, a história não passa da transformação da alienação - natural em alienação social: um processo de desalienação transformado em um - processo de alienação social, um movimento de libertação que produza novos - grilhões. Embora, no final, a vontade de emancipação humana ataque diretamente - o conjunto dos mecanismos paralisantes, ou seja, a organização social baseada - na apropriação privada. Esse é o movimento de desalienação que vai desfazer a - história e realizá-la em novos modos de vida. - - A ascensão da burguesia ao poder anuncia a vitória do homem sobre as forças - naturais. Mas, na mesma hora, a organização social hierárquica, nascida da - necessidade de luta contra a fome, a doença, o desconforto etc., perde sua - justificativa e é obrigada a endossar a responsabilidade pelo mal-estar nas - civilizações industriais. Hoje os homens já não atribuem a sua miséria à - hostilidade da natureza, mas sim , à tirania de uma forma social totalmente - inadequada, totalmente anacrônica. Destruindo o poder mágico dos senhores - feudais, a burguesia condenou a magia do poder hierárquico. O proletariado - executará a sentença. - - -- 50 - - O princípio hierárquico é o princípio mágico que resitiu à emancipação dos homens e as - suas lutas históricas pela liberdade. De agora em diante nenhuma revolução será digna - desse nome se não implicar pelo menos a eliminação radical de toda hierarquia. - - -- 51 - - Rigidamente quantificado (pelo dinheiro e depois pela quantidade de poder, por aquilo a - que poderíamos chamar “unidades sociométricas de poder”), a troca polui todas as relações - humanas, todos os sentimentos, todos os pensamentos. Onde quer que a troca domine, só - sobram coisas, um mundo de homens-objetos congelados nos organogramas do poder - cibernético: o mundo da reificação. Mas é também, paradoxalmente, a oportunidade de uma - reestruturação radical dos nossos modelos de vida e de pensamento. Um ponto zero em que - tudo pode verdadeiramente começar. - - [...] - - Ao sacrifício do senhor sucede o último estágio do sacrifício, o sacrifício do especialista. - Para consumir, o especialista faz outros consumirem de acordo com um programa - cibernético no qual a hiper-racionalidade das trocas suprimirá o sacrifício – e o homem ao - mesmo tempo! Se a troca pura regular um dia as modalidades de existência dos cidadãos- - robôs da democracia cibernética, o sacrifício deixará de existir. Para obedecer, os objetos - não têm necessidade de justificativa. O sacrifício não faz parte do programa das máquinas - assim como do seu oposto, o projeto do homem total. - O desmoronamento dos valores humanos sob a influência dos mecanismos de troca arrasta - - -- 52 - - Contrariamente aos interesses daqueles que controlam seu uso, a técnica tende a - desmistificar o mundo. - - [...] - - As mediações alienadas enfraquecem o homem ao tornarem-se indispensáveis. Uma - máscara social cobre os seres e objetos. No estado atual de apropriação primitiva, essa - máscara transforma aquilo que ela cobre em coisas mortas, em mercadorias. Não existe - mais natureza. Reencontrar a natureza é reinventá-la como adversário vantajoso - construindo novas relações sociais. A excrescência do equipamento material arrebenta o - casulo da velha sociedade hierárquica. - - -- 55 - - O quantitativo e o linear confundem-se. O qualitativo é plurivalente, o quantitativo, - unívoco. A vida quantificada se torna uma linha uniforme que é seguida em direção à - morte. - - -- 61 |