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authorSilvio Rhatto <rhatto@riseup.net>2018-06-18 12:19:01 -0300
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@@ -7,6 +7,9 @@
* Controle social, "restrições ao jogo de emoções".
* O Uso da Faca à Mesa, Do Uso do Garfo à Mesa: ótima dissertação.
* Hilário: "Mudanças de Atitude em Relação a Funções Corporais", sobre urinar, cagar, peidar publicamente, etc.
+* [Mittelalterliches Hausbuch](https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Mittelalterliches_Hausbuch_von_Schloss_Wolfegg)
+ (Livro de imagens da Idade Média) ([esta é uma das representações que Elias comenta](https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/Pinker-HausBuch1480.jpg))
+ e [Bruegel](https://www.pieter-bruegel-the-elder.org/).
### Kultur e Zivilization
@@ -1711,3 +1714,321 @@ desagradáveis mencionadas na edição anterior ou mesmo em manuais de outras
aqui, de diferentes ângulos, como um avanço nas fronteiras da vergonha, do
patamar da repugnância, dos padrões das emoções, provavelmente foi posto em
movimento por mecanismos como esses.
+
+### Em tempos medievais
+
+ A forca, o símbolo do poder judiciário de cavaleiro, é parte do ambiente de sua
+ vida. Talvez não seja muito importante, mas, de qualquer maneira, não é um
+ espetáculo particularmente doloroso. Sentença, execução, morte tudo isto é uma
+ presença constante nessa vida. Elas, também, não foram ainda removidas para
+ trás da cena.
+
+ [...]
+
+ por exemplo, na obra de Breughel, um padrão de repugnância que lhe permite
+ trazer para as telas aleijados, camponeses, cadafalsos, ou pessoas que se
+ aliviam de necessidades corporais. Mas o padrão visto neles está vinculado a
+ sentimentos sociais muito diferentes dos que vemos nesses quadros em que
+ aparece a classe alta de fins do período medieval.
+
+ [...]
+
+ Essas cenas de amor são tudo, menos “obscenas”. O amor é apresentado nelas como
+ tudo o mais na vida do cavaleiro fidalgo, torneios, caçadas, campanhas,
+ pilhagens. As cenas não são especialmente ressaltadas. Não sentimos em sua
+ representação coisa alguma da violência, da tendência para excitar ou
+ gratificar a satisfação de desejos negados na vida, característica de tudo o
+ que é “obsceno”. Esse desenho não nasce de uma alma oprimida, nem revela nada
+ de “secreto” mediante a violação de tabus.
+
+ [...]
+
+ Todas essas cenas são o retrato de uma sociedade na qual as pessoas davam vazão
+ a impulsos e sentimentos de forma incomparavelmente mais fácil, rápida,
+ espontânea e aberta do que hoje, na qual as emoções eram menos controladas e,
+ em consequência, menos reguladas e passíveis de oscilar mais violentamente
+ entre extremos.
+
+ Mas tais restrições e controles se faziam em uma direção diferente e em grau
+ menor que em períodos posteriores, e não assumiam a forma de autocontrole
+ constante, quase automático. O tipo de integração e interdependência em que
+ viviam essas pessoas não as compelia a abster-se de funções corporais uma na
+ frente da outra ou a controlar seus impulsos agressivos na mesma extensão que
+ na fase seguinte. Isto se aplica a todos. Mas, claro, para os camponeses, a
+ margem para agressão era mais restrita do que para o cavaleiro — isto é,
+ restrita a seus pares. [...] Uma restrição de ordem social às vezes se
+ impunha ao camponês pelo simples fato de que não tinha o suficiente para comer.
+ Isto certamente representa um controle de impulsos do mais alto grau e que
+ afeta todo o comportamento do ser humano. Mas ninguém prestava atenção a isso e
+ esta situação social dificilmente lhe tornava necessário impor controles a si
+ mesmo quando assoava o nariz, escarrava, ou pegava vorazmente comida na mesa.
+
+ [...]
+
+ A manifestação de sentimentos na sociedade medieval é, de maneira geral, mais
+ espontânea e solta do que no período seguinte. Mas não é livre ou sem modelagem
+ social em qualquer sentido absoluto. O homem sem restrições é um fantasma.
+ Reconhecidamente, a natureza, a força, o detalhamento de proibições, controles
+ e dependências mudam de centenas de maneiras e, com elas, a tensão e o
+ equilíbrio das emoções e, de idêntica maneira, o grau e tipo de satisfação que
+ o indivíduo procura e consegue.
+
+### Autocontrole como resposta ao avanço da interdependência
+
+ Quanto mais avançam a interdependência e a divisão de trabalho na sociedade,
+ mais dependente a classe alta se torna das outras e maior, por conseguinte, a
+ força social destas, pelo menos potencialmente. Mesmo quando ela ainda é
+ principalmente uma classe guerreira, quando mantém as outras classes
+ dependentes sobretudo pela espada e o monopólio das armas, algum grau de
+ dependência dessas outras classes não está de todo ausente. Mas é
+ incomparavelmente menor, e menor também é, conforme veremos em mais detalhes
+ adiante, a pressão vinda de baixo. Em consequência, o senso de domínio da
+ classe alta, seu desprezo pelas demais, é muito mais franco, e muito menos
+ forte a pressão sobre ela para praticar moderação e controlar seus impulsos.
+
+ [...]
+
+ Um novo comedimento, um controle e regulação novo e mais extenso do
+ comportamento que a velha vida cavaleirosa fazia necessário ou possível, são
+ agora exigidos do nobre. São resultado da nova e maior dependência em que foi
+ colocado o nobre. Ele não é mais um homem relativamente livre, senhor de seu
+ castelo, do castelo que é sua pátria.
+
+### Para uma teoria sobre civilizações
+
+ como e por que, no curso de transformações gerais da sociedade, que ocorrem em
+ longos períodos de tempo e em determinada direção — e para as quais foi adotado
+ o termo “desenvolvimento” —, a afetividade do comportamento e experiência
+ humanos, o controle de emoções individuais por limitações externas e internas,
+ e, neste sentido, a estrutura de todas as formas de expressão, são alterados em
+ uma direção particular? Essas mudanças são indicadas na fala diária quando
+ dizemos que pessoas de nossa própria sociedade são mais “civilizadas” do que
+ antes, ou que as de outras sociedades são mais “incivis” ou menos “civilizadas”
+ (ou mesmo mais “bárbaras”) que as da nossa. São óbvios os juízos de valor
+ contidos nessas palavras, embora sejam menos óbvios os fatos a que se referem.
+ Isto acontece em parte porque os estudos empíricos de transformações a longo
+ prazo de estruturas de personalidade, e em especial de controle de emoções, dão
+ origem a grandes dificuldades no estágio atual das pesquisas sociológicas. À
+ frente do interesse sociológico no presente, encontramos processos de prazo
+ relativamente curto e, em geral, apenas problemas relativos a um dado estado da
+ sociedade. As transformações a longo prazo das estruturas sociais e, por
+ conseguinte, também, das estruturas da personalidade, perderam-se de vista na
+ maioria dos casos.
+
+ O presente estudo diz respeito a esses processos de longo prazo. A sua
+ compreensão pode ser facilitada por uma curta indicação dos vários tipos que
+ esses processos assumem. Para começar, podemos distinguir duas direções
+ principais nas mudanças estruturais das sociedades: as que tendem para maior
+ diferenciação e integração, e as que tendem para menos. Além disso, há um
+ terceiro tipo de processo social, no curso do qual é mudada a estrutura de uma
+ sociedade, ou de alguns de seus aspectos particulares, mas sem haver tendência
+ de aumento ou diminuição no nível de diferenciação e integração. Por último,
+ são incontáveis as mudanças na sociedade que não implicam mudança em sua
+ estrutura. Este trabalho não faz justiça a toda a complexidade dessas mudanças,
+ porquanto numerosas formas híbridas, e não raro vários tipos de mudança, mesmo
+ em direções opostas, podem ser observadas simultaneamente na mesma sociedade.
+ Mas, por ora, este curto esboço dos diferentes tipos de mudança deve bastar
+ para indicar os problemas de que trata este estudo.
+
+ O primeiro volume concentra-se, acima de tudo, na questão de saber se a
+ suposição, baseada em observações dispersas, de que há mudanças a longo prazo
+ nas emoções e estruturas de controle das pessoas em sociedades particulares —
+ mudanças que se desenvolvem ao longo de uma única e mesma direção durante
+ grande número de gerações — pode ser confirmada por evidência fidedigna e
+ encontrar comprovação factual.
+
+ [...]
+
+ A demonstração de uma mudança em emoções e estruturas de controle humanas que
+ ocorre ao longo de muitas gerações, e na mesma direção ou, em curtas palavras,
+ o aumento do reforço e diferenciação dos controles — gera outra questão: é
+ possível relacionar essa mudança a longo prazo nas estruturas da personalidade
+ com mudanças a longo prazo na sociedade como um todo, que de igual maneira
+ tendem a uma direção particular, a um nível mais alto de diferenciação e
+ integração social? O segundo volume trata desses problemas.
+
+ No tocante a essas mudanças estruturais a longo prazo da sociedade, falta
+ também prova empírica. Tornou-se, por conseguinte, necessário no segundo volume
+ dedicar parte do mesmo à descoberta e elucidação das ligações factuais nesta
+ segunda área. A questão é se uma mudança estrutural da sociedade como um todo,
+ tendendo a um nível mais alto de diferenciação e integração, pode ser
+ demonstrada com ajuda de evidência empírica confiável. Isto se revelou
+ possível. O processo de formação dos Estados nacionais, discutido no segundo
+ volume, constitui um exemplo desse tipo de mudança estrutural. Finalmente, em
+ um esboço provisório de uma teoria de civilização, elabora-se um modelo, a fim
+ de demonstrar possíveis ligações entre a mudança a longo prazo nas estruturas
+ da personalidade no rumo da consolidação e diferenciação dos controles
+ emocionais, e a mudança a longo prazo na estrutura social com vistas a um nível
+ mais alto de diferenciação e integração como, por exemplo, visando a uma
+ diferenciação e prolongamento das cadeias de interdependência e à consolidação
+ dos “controles estatais”.
+
+ [...]
+
+ Facilmente se pode compreender que ao adotar uma metodologia voltada para
+ ligações factuais e suas explicações (isto é, um enfoque empírico e teórico
+ preocupado com mudanças estruturais de longo prazo de um tipo específico, ou
+ “desenvolvimento”), abandonamos as ideias metafísicas que vinculam o conceito
+ de desenvolvimento à noção ou de uma necessidade mecânica ou de uma finalidade
+ teleológica.
+
+ [...]
+
+ este estudo nem era de uma “evolução”, no sentido do século XIX, de um
+ progresso automático, nem de uma “mudança social” inespecífica no sentido do
+ século XX. Naquele tempo isto me pareceu tão óbvio que deixei de mencionar
+ explicitamente essas implicações teóricas. A introdução à segunda edição me dá
+ a oportunidade de corrigir essa omissão.
+
+ [...]
+
+ A situação é semelhante no tocante a grande número de outros problemas aqui
+ estudados. Quando, após vários estudos preparatórios que me permitiram
+ investigar a evidência documentária e explorar os problemas teóricos
+ gradualmente emergentes, o caminho para uma possível solução pareceu mais
+ claro, tornei-me consciente de que este estudo ajuda a solucionar o renitente
+ problema da ligação entre estruturas psicológicas individuais (as assim
+ chamadas estruturas de personalidade) e as formas criadas por grandes números
+ de indivíduos interdependentes (as estruturas sociais). E o faz porque aborda
+ ambos os tipos de estruturas não como fixos, como em geral acontece, mas como
+ mutáveis, como aspectos interdependentes do mesmo desenvolvimento de longo
+ prazo.
+
+### Os limites de conceber as coisas como um mero jogo de cartas
+
+ A fim de exemplificar este fato, bastará discutir a maneira como o homem que é
+ atualmente considerado o principal teórico da sociologia, Talcott Parsons,
+ tenta colocar e solucionar alguns dos problemas aqui estudados. É
+ característico do enfoque teórico de Parsons tentar dissecar analiticamente, em
+ seus componentes elementares, como disse ele certa vez,1 os diferentes tipos de
+ sociedades em seu campo de observação. A um tipo particular de componente
+ elementar ele chamou de “variáveis de padrão”. Essas variáveis de padrão
+ incluem a dicotomia entre “afetividade” e “neutralidade afetiva”. Sua concepção
+ pode ser mais bem-entendida comparando-se a sociedade com um jogo de cartas:
+ cada tipo de sociedade, na opinião de Parsons, representa uma “mão” diferente.
+ As cartas, porém, são sempre as mesmas e seu número é pequeno, por mais
+ diversas que sejam suas faces. Uma das cartas com que o jogo é disputado é a
+ polaridade entre afetividade e neutralidade afetiva. Parsons concebeu
+ originariamente essa ideia, segundo nos diz, analisando os tipos de sociedade
+ de Tönnies, a Gemeinschaft (comunidade) e Gesellschaft (sociedade). A
+ “comunidade”, parece acreditar ele, caracteriza-se pela afetividade, e a
+ “sociedade”, pela neutralidade afetiva. Mas, ao determinar as diferenças entre
+ diferentes tipos de sociedade, e diferentes tipos de relacionamentos dentro da
+ mesma, ele atribui a essa “variável de padrão” no jogo de cartas, como a
+ outras, um significado inteiramente geral. No mesmo contexto, Parsons trata do
+ problema da relação entre estrutura social e personalidade.2 Indica que
+ conquanto antes os tivesse interpretado simplesmente como “sistemas de ação
+ humana” estreitamente vinculados e interatuantes, agora pode declarar com
+ certeza que, em um sentido teórico, eles são fases, ou aspectos, diferentes de
+ um único e mesmo sistema de ação fundamental. Ilustra isto com um exemplo,
+ explicando que o que no plano sociológico pode ser considerado como uma
+ institucionalização da neutralidade afetiva é, essencialmente, o mesmo que no
+ nível da personalidade pode ser considerado como “na imposição da renúncia à
+ gratificação imediata, no interesse da organização disciplinada e dos objetivos
+ a longo prazo da personalidade”.
+
+ [...]
+
+ [1] in Talcott Parsons, Essays in Sociological Theory (Glencoe, 1963), p.359 e segs.
+
+ [...]
+
+ O que, neste livro, com ajuda de extensa documentação empírica se mostra que é
+ um processo, Parsons, pela natureza estática de seus conceitos, reduz
+ retrospectivamente, e em minha opinião sem nenhuma necessidade, a estados. Em
+ vez de um processo relativamente complexo, mediante o qual a vida afetiva das
+ pessoas é gradualmente levada a um maior e mais uniforme controle de emoções —
+ mas certamente não a um estado de total neutralidade afetiva —, Parsons sugere
+ uma simples oposição entre dois estados, afetividade e neutralidade afetiva,
+ que supostamente estariam presentes em graus diferentes em diferentes tipos de
+ sociedade, tal como quantidades diferentes de substâncias químicas.
+
+ [...]
+
+ Os fenômenos sociais, na verdade, só podem ser observados como evoluindo e
+ tendo evoluído. Sua dissecação por meio de pares de conceitos, que restringem a
+ análise a dois estados antitéticos, representa um desnecessário empobrecimento
+ da percepção sociológica tanto a nível empírico como teórico.
+
+ [...]
+
+ As categorias básicas selecionadas por Parsons, no entanto, parecem-me
+ arbitrárias no mais alto grau. Subjacentes a elas há a noção tácita, não
+ comprovada e supostamente axiomática, de que o objetivo de toda teoria
+ científica é o de reduzir tudo o que é variável a algo invariável, e
+ simplificar todos os fenômenos complexos dissecando-os em seus componentes
+ individuais.
+
+Construções auxiliares desnecessariamente complicadas:
+
+ O exemplo da teoria de Parsons, no entanto, sugere que a teorização no campo da
+ sociologia é mais complicada, do que simplificada, por uma sistemática redução
+ dos processos sociais a estados sociais, e de fenômenos complexos,
+ heterogêneos, a componentes mais simples e só aparentemente homogêneos. Este
+ tipo de redução e abstração poderia justificar-se como método de teorização
+ apenas se levasse, inequivocamente, a uma compreensão mais clara e profunda
+ pelos homens de si mesmos como sociedades e como indivíduos. Em vez disso,
+ descobrimos que as teorias formuladas por esses métodos, tal como a teoria do
+ epiciclo de Ptolomeu, exigem construções auxiliares desnecessariamente
+ complicadas, a fim de fazer com que concordem com os fatos observáveis. Não
+ raro elas parecem nuvens escuras das quais, daqui e dali, caem uns poucos raios
+ de luz que tocam a terra.
+
+Processos:
+
+ Na verdade, é indispensável que o conceito de processo seja incluído em teorias
+ sociológicas ou de outra natureza que tratem de seres humanos. Conforme
+ demonstrado neste estudo, a relação entre o indivíduo e as estruturas sociais
+ só pode ser esclarecida se ambos forem investigados como entidades em mutação e
+ evolução. Só então será possível construir modelos de seus relacionamentos,
+ como é feito aqui, que concordam com fatos demonstráveis.
+
+ [...]
+
+ Sem jamais dizer isto clara e abertamente, Parsons e todos os sociólogos da
+ mesma inclinação imaginam que existam separadamente essas coisas a que se
+ referem os conceitos de “indivíduo” e “sociedade”. Assim — para dar apenas um
+ exemplo —, Parsons adota a noção, já desenvolvida por Durkheim, de que a
+ relação entre “indivíduo” e “sociedade” é uma “interpenetração” do indivíduo e
+ do sistema social. Como quer que essa “interpenetração” seja concebida, o que
+ mais pode essa metáfora significar, senão que estamos tratando de duas
+ entidades diferentes que, primeiro, existem separadamente e que depois se
+ “interpenetram”?3
+
+Segue uma ótima crítica à sociologia estrutural/estática que enxerga sociedades
+como sistemas em repouso e que apenas buscam o repouso quando ocorre algum acidente
+perturbando seu equilíbrio homeostático.
+
+### Humildar: sacar mais qual é a real e não se iludir
+
+ Muitos dos artigos de fé sociológicos pioneiros não foram mais aceitos pelos
+ sociólogos do século XX. Eles incluíam, acima de tudo, a crença em que o
+ desenvolvimento da sociedade é necessariamente uma evolução para o melhor, um
+ movimento na direção do progresso. Esta crença foi categoricamente rejeitada
+ por muitos sociólogos posteriores, de acordo com sua própria experiência
+ social.
+
+ [...]
+
+ Se, no século XIX, concepções específicas do que devia ser ou do que se
+ desejava que fosse — concepções ideológicas específicas — levaram a um
+ interesse fundamental pelo desenvolvimento da sociedade, no século XX outras
+ concepções do que devia ser ou era desejável — outras concepções ideológicas —
+ geraram pronunciado interesse entre os principais teóricos pelo estado da
+ sociedade como ela se encontra, negligenciando os problemas da dinâmica das
+ formações sociais, e sua falta de interesse por problemas de processo de longa
+ duração e por todas as oportunidades de explicação que o estudo desses
+ problemas proporciona.
+
+ [...]
+
+ O objetivo não é atacar outros ideais em nome dos ideais que temos, mas
+ procurar compreender melhor a estrutura desses processos em si e emancipar o
+ arcabouço teórico da pesquisa sociológica da primazia de ideais e doutrinas
+ sociais. Isto porque só poderemos reunir conhecimentos sociológicos adequados o
+ suficiente para serem usados na solução dos agudos problemas da sociedade se,
+ quando equacionamos e resolvemos problemas sociológicos, deixamos de subordinar
+ a investigação do que é a ideias preconcebidas a respeito do que as soluções
+ devem ser.
+
+A discussão que segue é muito porreta e vale a pena ser lida na íntegra.