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author | Silvio Rhatto <rhatto@riseup.net> | 2016-12-12 12:28:44 -0200 |
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-rw-r--r-- | books/vida/arte-de-viver.mdwn | 54 |
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diff --git a/books/vida/arte-de-viver.mdwn b/books/vida/arte-de-viver.mdwn index 4f6be78..f0268b8 100644 --- a/books/vida/arte-de-viver.mdwn +++ b/books/vida/arte-de-viver.mdwn @@ -1,9 +1,9 @@ -[[!meta title="A Arte de Viver para Novas Gerações"]] +[[!meta title="A Arte de Viver para as Novas Gerações"]] Sobre ----- -A Arte de Viver para Novas Gerações, Raoul Vaneigem. +A Arte de Viver para as Novas Gerações, Raoul Vaneigem. Versões ------- @@ -712,3 +712,53 @@ Trechos um tijolo um militar torturador, e não se poderia fazer dele um homem? -- 143 + + O espaço é um ponto na linha do tempo, na máquina que transforma o futuro em + passado. O tempo controla o espaço vivido, mas controla-o do exterior, + fazendo-o passar, tornando-o transitório. Contudo, o espaço da vida individual + não é um espaço puro, e o tempo que o arrasta não é também uma pura + temporalidade. Vale a pena examinar a questão com mais cuidado. + + Cada ponto terminal na linha do tempo é único e particular, e entretanto logo + que se acrescenta o ponto seguinte, o seu predecessor desaparece na + uniformidade da linha, digerido por um passado que já conhece outros pontos. + Impossível distingui-lo. Cada ponto portanto faz progredir a linha que o faz + desaparecer. + + [...] + + Por mais que o espaço vivido seja um universo de sonhos, desejos, de + criatividade prodigiosa, ele não passa em termos de duração de um ponto que + sucede a outro ponto correndo segundo um único princípio, o da destruição. Ele + aparece, se desenvolve e desaparece na linha anônima do passado na qual o seu + cadáver se torna matéria-prima aos lampejos da memória e aos historiadores. + + [...] + + O espaço cristalino da vida cotidiana rouba uma parcela de tempo exterior + graças à qual se cria uma pequena área de espaço-tempo unitário: é o + espaço-tempo dos momentos da criatividade, do prazer, do orgasmo. O lugar dessa + alquimia é minúsculo, mas a intensidade vivida é tal que exerce na maioria das + pessoas um fascínio sem igual. Visto pelos olhos do poder, observando do + exterior, esses momentos de paixão não passam de um ponto irrisório, um + instante drenado do futuro pelo passado. A linha do tempo objetivo nada sabe – + e nada quer saber – do presente como presença subjetiva imediata. E por sua + vez, a vida subjetiva apertada no espaço de um ponto – a minha alegria, o meu + prazer, as minhas fantasias – não gostaria de saber nada sobre o + tempo-que-escoa, o tempo linear, o tempo das coisas. Ela deseja, pelo + contrário, aprender tudo do seu presente já que afinal ela nada mais é que um + presente. + + -- 148 + + O projeto de enriquecimento do espaço-tempo da experiência vivida passa pela + análise daquilo que o empobrece. O tempo linear só domina os homens na medida + em que lhes impede de transformar o mundo, na medida em que os coage portanto a + se adptarem. Para o poder, o inimigo número um é a criatividade individual + irradiando livremente. E a força da criatividade está no unitário. Como se + esforça o poder para quebrar a unidade do espaço-tempo vivido? Transformando a + experiência vivida em mercadoria, lançando-a no mercado do espetáculo, ao sabor + da oferta e da procura por papéis e estereótipos (foi isso que discuti nas + páginas dedicadas aos papéis, no capítulo XV). + + -- 150 |