From 72ec7b2e57794c7bebb6bd44ba4089312409adf9 Mon Sep 17 00:00:00 2001 From: Silvio Rhatto Date: Sun, 17 Jan 2021 15:57:49 -0300 Subject: Feat: refactor, cleanup and organize --- social/etica.md | 148 ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ 1 file changed, 148 insertions(+) create mode 100644 social/etica.md (limited to 'social/etica.md') diff --git a/social/etica.md b/social/etica.md new file mode 100644 index 0000000..5746640 --- /dev/null +++ b/social/etica.md @@ -0,0 +1,148 @@ +# Conjunto de Princípios Éticos + +Baseado nos [princípios das mídias e grupos livres](https://encontro.fluxo.info/Principal/ConjuntoDePrincipiosEticos). + +0. Sobre a mobilidade dos princípios: Todos os princípios podem ser a qualquer +momento modificados ou abandonados desde que não sejam mais a expressão +imanente das relações que se constituem através das ações coletivas. + +1. Sobre a autonomia: grupos e mídias livres renunciam e se recusam a recorrer +a qualquer entidade política que não a si próprias para constituir sua +legalidade e sua normatividade, por acreditar que a sua única fonte legítima é +sua emergencia a partir dos laços de confiança e solidarieade entre +participantes e de cada participante com os coletivos por eles constituídos. + +2. Sobre a apropriação pública: As mídias e os grupos livres defendem e +promovem a apropriação pública dos meios de produção (rejeita a sua apropriação +privada) e, em específico dos meios de produção de bens simbólicos e culturais +e aos produtos do trabalho intelectual e imaterial. + +3. Sobre o licenciamento: As mídias e os grupos livres usam licenciamento +livre, apoiam explicitamente os novos direitos autorais e consideram +especialmente inaceitável a apropriação privada do trabalho intelectual / +imaterial. aqui, bem que podia aparecer alguma vinculação das licenças com +propostas de escambo, economia solidária, moeadas locais, permacultura, +comércio justo... tipo: inventar uma licença que permitisse a circulação em +sistemas de mercado não-capitalistas. Talvez, exigindo para isso o +consentimento (tácito?) dos envolvidos + +4. Sobre o acesso público: As mídias e os grupos livres criam plataformas de +comunicação mediática e espaços simbólicos de acesso público em que se rejeita +absolutamente a monopolização vertical da produção mediática; embora +estabeleçam princípios éticos e políticos para o acesso aos suportes, não há +controle sobre a produção de "conteúdo", permitindo que uma pluralidade de +organizações possam se utilizar dos mesmos canais de comunicação. + +5. Sobre a diversidade: As mídias e os grupos livres visam aumentar a +diversidade dos pontos de vista e estimular o debate argumentativo, recusa +apoiar práticas da política institucional e veda o proselitismo religioso, +político-institucional e/ou propaganda comercial. + +6. Sobre a gestão: As mídias e os grupos livres usam e desenvolvem +sistematicamente mecanismos de gestão anti-hierárquicos e baseados na geração +de consensos a partir da argumentação pública; ou seja, rejeitam (ou evitam ao +máximo), como práticas de organização: a representação política e a votação +plebiscitária. A divisão funcional é adotada com ponderação, sob avaliação +coletiva e de maneira ocasional. + +7. Sobre as invenções: As mídias e os grupos livres propiciam e estimulam a +invenção estética, tecnológica e política, na medida em que tomam a organização +social, a cultura e o corpo como realidades dignas de serem transformados e +aperfeiçoados. Nesse sentido, as mídias e os grupos livres defendem a liberdade +de conhecimento e de acesso a ele; para contribuir com a concretização destas +liberdades, as mídias e os grupos livres incentivam o uso de softwares livres e +a publicação em formatos livres (.ogg para áudio, .png para imagens, etc.) e +em, caso isso não seja possível, em formatos proprietários mas que sejam +públicos (.rtf e .pdf para textos, .mpg para vídeos, etc.). As mídias e os +grupos livres não incentivam o uso de formatos proprietários (.doc para texto, +.ppt para apresentação de slides, etc.). + +8. Sobre as pesquisas e as metodologias: As mídias e os grupos livres promovem +a pesquisa, o desenvolvimento e pratica de metodologias para a apropriação dos +recursos de comunicação pelos públicos, através do que buscam transformar em +práticas cotidianas dos cidadãos a produção de comunicação mediática e o seu +uso público político. + +9. Sobre a expansão e a organização em redes: A lógica de expansão das mídias e +grupos livres segue a de formação dos rizomas (e não da árvores): formam novas +organizações quando o contingente de participantes aumenta, adensam as +interconexões (comunicação lateral) entre as organizações e evitam que +indivíduos e grupos de influência se coloquem no lugar de intermediários +políticos. + +10. Sobre doações: Se recebem dinheiro, o fazem apenas como doação, ou seja: +qualquer apoiador deve saber que seus recursos não serão empregados senão para +os fins estritos de criação de espaços comunicativos livres, sendo vedadas as +práticas de mercantismo cultural, social ou político. Tais doações são aceitas +apenas se anônimas (isto é, não publicizadas). Dinheiro governamental ou +empresarial não é aceito. + +11. Sobre auto-sustentabilidade: As mídias e grupos livres estimulam a geraçãoo +de mecanismos de autosustentabilidade (ou "autodependência") local e +comunitária. Exemplos: venda de camisetas, comidas, rifas, organização de +festas, mostra de videos, etc. Tratam-se de atividades criadas e organizadas +para estimular a vivência em coletivo e a escapar das práticas capitalistas. É +recomendável que, dentro dos grupos e entre eles, exista uma socialização dos +recursos e que os individuos também adotem essa prática, compartilhando +recursos pessoais com o coletivo, para criar ambientes de solidariedade +comunitária, onde ninguém seja excluído por falta de recursos. + +12. Sobre a gestão financeira: Para garantir essas condições de financiamento, +toda a gestão financeira das mídias e grupos livres é publica: tanto as +informações contábeis quanto a participação nas decisões são acessíveis às +pessoas concernidas nas ações desta organização. + +13. Sobre a privacidade: As mídias e os grupos livres defendem a +inviolabilidade da intimidade e a privacidade do indivíduo, especialmente +contra sua exploração capitalista, por meio de dispositivos de identificação de +padrões comportamentais. No caso da implementação de sistemas emergentes de +identificação de padrões de uso nas plataformas das mídias e grupos livres, +todos os concernidos têm pleno acesso ao seu funcionamento e os podem alterar +sempre que desejarem (através de processos de formação argumentativa de +consensos, vide acima). + +14. Sobre a espetacularização: As mídias e os grupos livres não se utilizam da +espetacularização ou maravilhização. Quer dizer, realmente estamos precisados +de conceituar e expressar verbalmente o que estamos tomando sob +"espetacularização" e "maravilhização": quase a totalidade dos grupos de hoje +trabalham demais com a espetacularização: as ações que escolhem são as mais +espetacularizadas possíveis (tanto é que não vemos os grupos trabalharem com a +mesma intensidade em coisas de base ou em estrutura), eles tem uma preocupação +imensa em mostrar o que estão fazendo, em trabalhar com mídia, etc. Isso deve +ser uma herança da dita mídia tática e de mais um monte de coisa e acho que +deveriam ser analisados, tem que ter uma crítica. Porque às vezes os logotipos +parecem surgir antes mesmo das ações. + +15. Sobre uma sociedade livre: As mídias e os grupos livres comprometem-se com +o projeto de construção de uma sociedade livre, igualitária e com respeito ao +meio ambiente. + +16. Sobre a garantia de expressão: As mídias e os grupos livres trabalham no +sentido de garantir um espaço para que qualquer pessoa, grupo (de afinidade +política, de ação direta, de artivismo) e movimento social - que estejam em +sintonia com esses objetivos - possam publicar sua própria versão dos fatos. + +17. Sobre a distinção entre produtor/a e consumidor/a: As mídias e os grupos +livres trabalham no sentido de romper o papel de espectador(a) passivo/a e +transformando a prática midiática ao romper com a mediação do/a jornalista +profissional e com a interferência de editores/as no conteúdo das matérias. + +18. Sobre a transformação da sociedade: As mídias e os grupos livres favorecem +conteúdos informacionais sobre transformação social ou que retratem as +realidades dos/as oprimidos/as ou as lutas dos novos movimentos. Sobre a +união: As mídias e os grupos livres trabalham no sentido de unir esforços para +uma real democratização da sociedade, primando sempre por privilegiar a +perspectiva dos/as oprimidos/as. Em função disso, esperamos uma atitude +construtiva e tolerante entre os/as participantes do sítio; afinal, queremos +juntar forças, não lutar entre nós. + +19. Sobre a intolerância: As mídias e os grupos livres lutam contra o racismo, +o sexismo e outros tipos de intolerância. + +20. Sobre a remuneração pelo trabalho: As mídias e os grupos livres funcionam +exclusivamente a partir de trabalho voluntário. + +21. Sobre a capitalização sobre trabalho: As mídias e os grupos livres não +devem permitir que seus voluntários/as capitalizem em cima do seu trabalho +voluntário, seja adicionando tal trabalho em seu currículo ou seja por obter +benesses através do uso do nome do grupo ou da mídia livre. -- cgit v1.2.3