From bd16dd89ba0b1f9f9d53538120d0ebd0d8208eb6 Mon Sep 17 00:00:00 2001 From: Silvio Rhatto Date: Sat, 26 Nov 2016 10:50:48 -0200 Subject: Updates books --- books/sociedade/ilha.mdwn | 16 +++ books/sociedade/segundo-sexo.mdwn | 22 ++++ books/sociedade/sociedade-contra-o-estado.mdwn | 18 ++++ books/sociedade/spaceship.mdwn | 18 ++++ books/sociedade/tolice.mdwn | 136 +++++++++++++++++++++++++ 5 files changed, 210 insertions(+) create mode 100644 books/sociedade/ilha.mdwn create mode 100644 books/sociedade/segundo-sexo.mdwn create mode 100644 books/sociedade/sociedade-contra-o-estado.mdwn create mode 100644 books/sociedade/spaceship.mdwn create mode 100644 books/sociedade/tolice.mdwn (limited to 'books/sociedade') diff --git a/books/sociedade/ilha.mdwn b/books/sociedade/ilha.mdwn new file mode 100644 index 0000000..ecf2186 --- /dev/null +++ b/books/sociedade/ilha.mdwn @@ -0,0 +1,16 @@ +[[!meta title="A Ilha"]] + +A Ilha, de Fernando Morais, 30a edição. + +## Depoimento de Julio Martinez Paes + + Santiago de Cuba tinha coisas curiosas. Frank País, por exemplo, + estava sendo procurado, não podia andar pelas ruas. Mas podia falar + pelo telefone sem medo de censura, porque todas as telefonistas da + cidade eram militantes do Movimento 26 de Julho. Não só podíamos + falar à vontade como até tínhamos acesso a conversações oficiais. + Quando uma telefonista recebia uma ligação oficial, dava um jeito + de colocar um de nós na extensão, para que soubéssemos com antecedência + de muitos planos da ditadura. + +-- pág. 209 diff --git a/books/sociedade/segundo-sexo.mdwn b/books/sociedade/segundo-sexo.mdwn new file mode 100644 index 0000000..11f92bd --- /dev/null +++ b/books/sociedade/segundo-sexo.mdwn @@ -0,0 +1,22 @@ +[[!meta title="O Segundo Sexo"]] + + Se as dificuldades são mais evidentes na mulher independente é porque + ela não escolheu a resignação e sim a luta. Todos os problemas vivos + encontram na morte uma solução silenciosa. + + -- 456 + + É absurdo pretender que a orgia, o vício, o êxtase, a paixão se tornariam + impossíveis se o homem e a mulher fossem concretamente semelhantes. + + -- 499 + + Atentemos para o fato de que nossa imaginação despovoa sempre o futuro; + êste não passa de uma abstração para nós; cada um de nós nele deplora surdamente + a ausência do que foi; mas a humanidade de amanhã irá vivê-lo em sua carne + e em sua liberdade, ele será seu presente e ela por sua vez o preferirá; + entre os sexos surgirão novas relações carnais e afetivas de que não temos + idéia; já apareceram entre homens e mulheres amizades, rivalidades, cumplicidades, + camaradagens, castas ou sexuais, que os séculos passados não teriam sabido inventar. + + -- ? diff --git a/books/sociedade/sociedade-contra-o-estado.mdwn b/books/sociedade/sociedade-contra-o-estado.mdwn new file mode 100644 index 0000000..dfe9d6e --- /dev/null +++ b/books/sociedade/sociedade-contra-o-estado.mdwn @@ -0,0 +1,18 @@ +[[!meta title="A sociedade contra o Estado"]] + + Se entendermos por técnica o conjunto dos processos de que se munem os homens, + não para assegurarem o domínio absoluto da natureza (isso só vale para o nosso + mundo e seu insano projeto cartesiano cujas consequências ecológicas mal + começamos a media), mas para garantir um domínio do meio natural _adaptado e + relativo às suas necessidades_, então não mais podemos falar em inferioridade + técnica das sociedades primitivas: elas demonstram uma capacidade de satisfazer + suas necessidades pelo menos igual àquela de que se orgulha a sociedade + industrial e técnica. + + [...] + + Não existe portanto hierarquia no campo da técnica, nem tecnologia superior + ou inferior; só se pode medir um equipamento tecnológico pela sua capacidade + de satisfazer, num determinado meio, as necessidades da sociedade. + + -- 203 diff --git a/books/sociedade/spaceship.mdwn b/books/sociedade/spaceship.mdwn new file mode 100644 index 0000000..24fc2b9 --- /dev/null +++ b/books/sociedade/spaceship.mdwn @@ -0,0 +1,18 @@ +[[!meta title="Manual da Espaçonave Terra"]] + + Contudo, e de súbito, e sem que na sociedade ninguém se apercebesse, surgiu o + anti-corpo evolucionário contra a extinção na forma do computador e da sua + automatização globalmente orientada, que tornou o homem obsoleto como + especialista da produção e controle físicos -- mesmo em cima da hora. + + Como superespecialista, o computador pode perseverar dia e noite, separando o + preto do branco a velocidades sobrehumanas. O computador pode também operar em + graus de frio ou calor nos quais o homem pereceria. Como especialista, o homem + vai ser completamente afastado pelo computador. O homem vai ser obrigado a + reestabelecer, usar e disfrutar sua "globalidade" inata. O que se nos depara é + lidar com a totalidades da Nave Espacial Terra e do universo. A evolução parece + estar apostada em fazer o homem cumprir um destino muito mais elevado que ser + apenas uma simples máquina muscular e reflexa -- um autómato escravo -- a + automatização afasta os autómatos. + + -- 24 e 25 diff --git a/books/sociedade/tolice.mdwn b/books/sociedade/tolice.mdwn new file mode 100644 index 0000000..478e785 --- /dev/null +++ b/books/sociedade/tolice.mdwn @@ -0,0 +1,136 @@ +[[!meta title="A Tolice da Inteligência Brasileira"]] + +Violência simbólica +------------------- + + Ora, como diria o insuspeito Max Weber, os ricos e felizes, em todas as + épocas e em todos os lugares, não querem apenas ser ricos e felizes. Querem + saber que têm "direito" à riqueza e felicidade. Isso significa que o privilégio + -- mesmo o flagrantemente injusto, como o que se transmite por herança -- + necessita ser "legitimado", ou seja, aceito mesmo por aqueles que foram + excluídos de todos os privilégios. + + [...] + + É por conta disso que os privilegiados são os donos dos jornais, das + editoras, das universidades, das TVs e do que se decide nos tribunais e nos + partidos políticos. Apenas dominando todas essas estruturas é que se pode + monopolizar os recursos naturais que deveriam ser de todos, e explorar o + trabalho da imensa maioria de não-privilegiados soba a forma de taxa de lucro, + juro, renda da terra ou aluguel. + + A soma dessas rendas de capital no Brasil é monopolizada em grande parte + pelo 1% mais rico da população. É o trabalho dos 99% restantes que se transfere + em grande medida para o bolso do 1% mais rico. + + [...] + + A tese central deste livro é que tamanha "violência simbólica" só é + possível pelo sequestro da "inteligência brasileira" para o serviço não da + imensa maioria da população, mas do 1% mais rico. [...] Esse serviço que a + imensa maioria dos intelectuais brasileiros sempre prestou e ainda presta é o + que possibilita a justificação, por exemplo, de que os problemas brasileiros + não vêm da grotesca concentração da riqueza social em pouquíssimas mãos, mas + sim da "corrupção apenas do Estado". + + E isso leva a uma falsa oposição entre Estado demonizado e mercado -- + concentrado e superfaturado como é o mercado brasileiro --, como o reino da + virtude e da eficiência. E em um contexto no qual não existe fortuna de + brasileiro que não tenha sido construída à sombra de financiamentos e + privilégios estatais nem corrupção estatal sistemática sem conivência e + estímulo do mercado. E também em um cenário em que as classes sociais que mais + apoiam essa bandeira como se fosse sua -- os extratos conservadores da classe + média tradicional e setores ascendentes da nova classe trabalhadora -- são + precisamente as classes que mais sofrem com os bens e serviços superfaturados e + de qualidade duvidosa que o 1% mais rico vende a elas. + + -- 9 a 11 + +Crítica das ideias +------------------ + + Este livro é uma história das ideias dominantes do Brasil moderno + e de sua institucionalização. + + [...] + + Retira-se dos indivíduos a possibilidade de compreender a totalidade da + sociedade e de suas reais contradições e conflitos, os quais são substituídos + por falsas questões. A fragmentação do conhecimento serve aos interesses dos + que estão ganhando na sociedade, já que evidencia sua mudança possível. A ação + da mudança, a capacidade moral e política de escolher caminhos alternativos + pela vontade de intervir no mundo, pressupõe "conhecimento do mundo" para não + ser "escolha cega". É isso que faz com que todo o conhecimento fragmentário e + superficial seja necessariamente conservador. Ele ajuda a manter e justificar o + que já existe. + + -- 12 e 13 + +Interpretações que explicam o mundo +----------------------------------- + + Os seres humanos são animais que se interpretam. Isso significa que não existe + "comportamento automático", este é sempre influenciado por uma "forma + específica de interpretar e compreender a vida". Essas interpretações que guiam + nossas escolhas na vida foram obras de profetas religiosos no passado. Nos + últimos duzentos anos essas interpretações, que explicam o mundo e nos dizem + como devemos agir nele, foram obras de intelectuais seculares. O mais + importante desses intelectuais no Ocidente moderno foi -- juntamente com Karl + Marx -- o sociólogo alemão Max Weber. Afinal, foi da pena de Weber que se + originou a forma predominante como todo o Ocidente moderno se autointerpreta e + se legitima. As ideias dominantes que circulam na imprensa, nas salas de aula, + nas discussões parlamentares, nas conversas de botequim -- em todo lugar -- são + sempre formas mais simplificadas de ideias produzidas por grandes pensadores. + + Daí a importância de se recuperar o sentido original dessas ideias que são tão + relevantes para nossas vidas ainda que, normalmente, não nos demos conta disso. + + [...] + + Não existe ordem social moderna sem uma legitimação pretensamente científica + desta mesma ordem. + + Talvez o uso de Max Weber e sua obra seja um dos exemplos mais significativos + do caráter bifronte da ciência: tanto como mecanismo de esclarecimento do mundo + quanto como mecanismo de encobrimento das relações de poder que permitem a + reprodução de privilégios injustos de toda a espécie. + + [...] + + Para a versão liberal e afirmativa, Weber fornece, por um lado, sua análise + da "revolução simbólica" do protestantismo ascético; para ele, a efetiva + revolução moderna, na medida em que transformou a "consciência" dos indivíduos + e, a partir daí, a realidade externa, é a figura do protestante ascético, + que com vontade férrea e armas da disciplina e do autocontrole cria o fundamento + histórico para a noção do "sujeito moderno". + + [...] + + Mas Weber, e nisso reside sua influência e atualidade extraordinária, + também compreendia, no entanto, o lado sombrio do racionalismo ocidental. + Se o pioneiro protestante ainda possuía perspectivaas éticas na sua conduta, + seu "filho" e, muito especialmente, seu "neto", habitantes do mundo secularizado, + são percebidos por Weber de modo bastante diferente. Para descrevê-los, Weber + utiliza dois "tipos ideais" [...], o "especialista sem espírito", que tudo + conhece sobre seu pequeno mundo de atividade e nada sabe (nem quer saber) + acerca de contextos mais amplos que determinam seu pequeno mundo, e, por + outro, o "homem do prazer sem coração", que tende a amesquinhar seu mundo + sentimental e emotivo à busca de prazeres momentâneos e imediatos. + + -- 17 a 19 + +Patrimonialismo brasileiro +-------------------------- + + Toda a ambiguidade de Max Weber em relação ao capitalismo -- produtor de seres + amesquinhados precisamente nas dimensões cognitiva e moral -- e à própria + sociedade americana -- [...] foi cuidadosa e intencionalmente posta de lado. + + -- 27 + + No começo, o aspecto mais importante era simplesmente legitimar científica + e politicamente -- com farto financiamento das agências estatais norte-americanas + nos Estados Unidos e fora dele -- a superioridade norte-americana em relação + a todas as outras sociedades. + + -- 27 -- cgit v1.2.3