aboutsummaryrefslogtreecommitdiff
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24 files changed, 1509 insertions, 0 deletions
diff --git a/events/2018/cryptorave/Makefile b/events/2018/cryptorave/Makefile
new file mode 100644
index 0000000..e52016a
--- /dev/null
+++ b/events/2018/cryptorave/Makefile
@@ -0,0 +1,4 @@
+all:
+ pandoc -s -t beamer -f markdown slides.md -o slides.tex -V lang=pt-br
+ pdflatex slides.tex
+ rm -f slides.aux slides.log slides.nav slides.out slides.snm slides.tex slides.toc slides.vrb
diff --git a/events/2018/cryptorave/cardificina.md b/events/2018/cryptorave/cardificina.md
new file mode 100644
index 0000000..72d68f5
--- /dev/null
+++ b/events/2018/cryptorave/cardificina.md
@@ -0,0 +1,26 @@
+[[!meta title="Contos da Crypto - Capítulo Intervenção Militar"]]
+[[!meta date="2018-05-06 10:00:00-0300"]]
+
+Cardificina OPSEC: histórias, tangos & tragédias num tecnodespacho
+embaralhado.
+
+Imagine que estamos refugiados no nosso próprio país, escondidos
+num templo de religião proibida ou acampados no meio da terra
+devastada.
+
+Passaremos a noite contando histórias de várias cartas do
+Baralho OPSEC - https://baralho.fluxo.info.
+
+Para isso, precisamos de um canto isolado e silencioso durante
+a madrugada onde possamos fumar charuto e beber rum sem sermos
+importunados por agentes do sistema.
+
+Material necessário pra criar um climão:
+
+* Aparelho de som e músicas estilo Satanique Samba Trio.
+* Velas e iluminação indireta.
+* Mala de cartas.
+* Charutos, rum, cigarrilhas, maços de cigarro cubano, fósforos.
+* Almofadas pra sentar no chão.
+* Cartazes indicativos da atividade.
+* Taco de baseball cubano.
diff --git a/events/2018/cryptorave/hostil.md b/events/2018/cryptorave/hostil.md
new file mode 100644
index 0000000..4143d2a
--- /dev/null
+++ b/events/2018/cryptorave/hostil.md
@@ -0,0 +1,934 @@
+[[!meta title="Tendências Brasil Hostil para a Década de 20"]]
+[[!meta date="2018-05-06 12:00:00-0300"]]
+[[!toc startlevel=2 levels=4]]
+
+## Sobre
+
+Estas são notas diversas de uma palestra realizada na [CryptoRave de 2018](/events/2018/cryptorave)
+e contém um esboço inacabado sobre redes de solidariedade com modificações posteriores à palestra.
+
+* [Slides](slides) | [PDF](slides.pdf).
+
+## Convite
+
+A primavera durou pouco e agora temos um longo e tenebroso
+inverno pela frente.
+
+Medievalismo judiciário, estado policial de exceção, boçalidade cognitiva e
+zumbificação de massas compõem o repertório corrente de violência e bestialidade.
+
+Mas você não vai suportar todo esse período sem se preocupar
+em ficar longe da vala, com um look descolado e ainda causando impressões, certo?
+
+Então vamos falar do que está IN e o que está OUT.
+
+Moda: conselhos exclusivos para evitar o paletó de madeira da coleção passada.
+
+Ostentação: quem hoje em dia consegue aquele habeas corpus malhado e tão cobiçado?
+Como se virar sem ele e aproveitar a vida fora da cadeia.
+
+Polêmica: precisamos falar sobre clandestinidade. O que é, quem entra e quem sai
+mantendo o bronzeado.
+
+E muito mais! Dicas de Segurança Operacional que ninguém quer dar pra você se organizar
+na coletividade para resistir ao tratamento de choque social.
+
+## Primeira parte: tour de force
+
+ "E essa agora que o General da intervenção disse que o
+ Rio de Janeiro é um Laboratório para o Brasil?
+ E nós somos as cobaias??? Absurdo!"
+
+ -- Marielle Franco, em mensagem de 27/02/18
+
+ "E eu sei quem são meus amigos eternos e quem são
+ os eventuais. Os de gravatinha, que iam atrás de mim,
+ agora desapareceram."
+
+ -- Lula, em seu discurso de 07/04/18
+
+### Recapitulando, mas sem capitular
+
+Como estávamos nos anos anteriores?
+
+* [2016: Brasil Hostil - Circuito Grampolândia: a República da Escuta:
+ vigilância generalizada](https://grampo.org).
+
+* [2017: Brasil Hostil - Etapa República de
+ Weimar](https://blog.fluxo.info/events/2017/cryptorave/hostil/):
+ efervescência política e avanço do arcabouço jurídico da repressão.
+
+O assunto era PNI, GLO, LOC, LSN, Lei Anti-Terror, Código Penal, Operações Extra-Oficiais...
+
+Falamos sobre OPSEC - Segurança Operacional, dando ênfase na preparação para
+pessoas e grupos enfrentarem as dificuldades da vida e estarem à frente da
+repressão e desestabilização social.
+
+Onde a última palestra termina, esta começa: Círculos de Solidariedade o organização coletiva.
+
+### Como estamos?
+
+* 2018: Brasil Hostil - Edição Intervenção Foderal / Ascensão do Fascismo.
+
+* Fim de muitos ciclos aqui e no mundo. Talvez até de grandes períodos sob a
+ égide do Iluminismo ou do Renascimento.
+
+* Mas chega de prosa. Bora dar um giro?
+
+### Attention! Achtung! Attenzione! Atenção!
+
+![Recadinho do General para turistas](images/baderna.png)
+
+### Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Bordel
+
+![Ritual dos Sádicos no clube hedonista "Bahamas"](images/bahamas.png)
+
+Parece uma cena de enforcamento pré-Thermidoriana.
+
+### Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Personalidades
+
+![Ministro da Defesa reverenciando o General](images/beijo-chefao.jpg)
+
+### Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Emboscadas
+
+![Marielle: morte sem ameaças prévias](images/carro-marielle.jpeg)
+
+Essa cena me lembrou do fusca do Marighella.
+
+### Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Moda
+
+![Trench Coat Militar](images/trench-coat.jpg)
+
+### Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Polvo
+
+![Kit Palhacitos](images/tuiuti-pato-fantoche.jpg)
+
+Fantasia ou realidade?
+Vizú de carnaval tirando um côco da imbecilidade
+
+### E o mundo em geral, a quantas desanda?
+
+![Zombie Nation](images/facebook-zombies.jpeg)
+
+### Tendências para a Década de 20
+
+Tem gente muito mais informada do que eu pra dar um diagnóstico melhor.
+Mesmo assim, em bom protuguês:
+
+* Um FEBEAPÁ pornográfico.
+
+* Elite local tentado dar o salto para se tornar elite global via
+ privatização extrema e entreguismo; indícios de forte parceria entre o crime
+ organizado do andar de cima e do de baixo (facções); e por aí vai.
+ Um processo cheio de ruídos.
+
+* Estado de exceção permanente, Terror, necropolítica, pós-realidade.
+ Muita gente vai rodar.
+
+* Fascismo de consumo em momento de recessão econômica.
+
+* Falta de narrativa que dê sentido à existência frente ao abismo.
+
+* Choque, luto, depressão, paralisia.
+
+Momento pouco propício para que a mobilização se amplie.
+Vivi essa sensação antecipadamente.
+
+### Então fodeu?
+
+* A canoa emborcou. Pode ser que amarguemos alguns anos até a próxima iteração.
+
+* Protestos e mobilizações passam por uma fase de esgotamento e
+ insuficiência.
+
+* A janela histórica pode se abrir havendo comoção massiva.
+
+* Este século pode ser decisivo para o futuro da humanidade.
+ Possibilidade de obsolescência incluindo o humano. Ainda não sabemos.
+
+* Enquanto isso, estamos mais ou menos que por conta. Enquanto isso...
+ bom... havendo vida há esperança.
+
+### Por onde (re-)começar?
+
+* O que a gente faz depois de sobreviver a uma avalanche?
+
+* Momento de estudo, maturação, fortalecimento, solidariedade, organização e luta.
+
+* A gente começa pequeno e cuida do básico essencial. Fazendo bem, a parada
+ cresce.
+
+* No passado falamos muito de _segurança._ Agora nossa ênfase será
+ na ideia de _organização._ E falaremos das organizações _solidárias._
+
+### Solidariedade: egoísmo e altruísmo
+
+O fundamento da solidariedade é a **tensão** dinâmica entre egoísmo (cuidar de si,
+receber cuidados) e altruísmo (cuidar de outrem, aceitar os cuidados de outrem).
+A isto chamaremos de _ajuda mútua._
+
+![Afresco egípcio sobre segurança aérea, séc. XX D.C.](images/egiptian-safety-sheet.png)
+
+Nota: essa figura é curiosa. Repare que o cuidado é associado a um papel
+usualmente considerado de feminino em tal sociedade. Ao mesmo tempo, o estado
+frágil, desprotegido e sem máscara, é caracterizado pela roupa na cor rosa,
+enquanto que no estado de salvação a roupa passa a ser azul, uma cor na época
+usualmente associada ao papel masculino. Essa civilização possivelmente tinha
+muitos problemas relativos à atribuição de papéis a gêneros.
+Assim, sacos de vômito também são bem-vindos.
+
+"Solidariedade" aqui não será entendida no termo clássico, de solidez e apenas "soma
+do todo". Será mais *fluido:* a relação local/global.
+
+O problema do termo "solidariedade": sólido, solidez, "soma do todo": visão
+eminentemente globalista, totalizante. Aqui iremos usar o termo solidariedade
+mais no sentido da ajuda mútua: relações locais entre pessoas e grupos que
+compõem um tecido social global.
+
+Então, primeiramente... cuidar da dor. Fazer o luto. Cicatrizar. Saber o quanto é
+preciso estar bem para pode ajudar. Aceitar ajuda.
+
+A via é de mão dupla e o puro antagonismo entre os termos não nos serve.
+Os vínculos _sólidos_ podem ao mesmo tempo serem fluídos. Fluidariedade.
+
+Diferenciar ajuda mútua do conceito liberal de "liberdade, igualdade e fraternidade".
+
+Diferenciar ajuda mútua de Esquema Ponzi:
+http://www.dinheiroganhar.net/ajuda-mutua-e-crime-saiba-a-verdade/
+
+### Bem-estar
+
+* Os afetos _tristes_ reduzem nossa capacidade de ação. Estar junto favorece
+ os afetos _alegres,_ fundamentais para a mudança.
+
+* É incrível como às vezes a gente consegue ajudar mesmo estando em frangalhos.
+ Outras vezes não.
+
+* O Duplo Movimento de renúncia e libertação: tirar o peso do mundo das costas
+ para poder mudar o mundo. Poder respirar primeiro para assim poder mergulhar de novo.
+
+* Os múltiplos movimentos: a dificuldade humana de relacionar escalas: micro-macro,
+ temporalidades, local-global, aqui-e-agora etc.
+
+### Os movimentos e os caminhos
+
+* Esta é uma proposta para ajudar no caminho de hoje. Utopia vista como narrativa
+ de onde podemos chegar que nos ajuda a andar. Não como ponto de chegada.
+
+* Pode ser que o trampo deste geração seja preparar o terreno para a próxima...
+
+* Pode ser que precisamos olhar para gerações (iterações) passadas e checar
+ alguns detalhes que passaram batidos...
+
+* A ajuda mútua pode ser a orientação básica para praticar e propagar
+ formas de existência mais dignas.
+
+* Mas apenas essa orientação é insuficiente. Apenas a prática espontânea
+ da ajuda também é insuficiente.
+
+* É necessária uma solidariedade além do meramente espontâneo e que gere algum
+ acúmulo, um ganho organizativo que permita um salto, mesmo que lá na frente.
+
+* Precisamos de solidariedade _organizada._
+
+### O que fazer?
+
+* Poderíamos buscar teorias progressistas para repensar no que fazer.
+
+* Mas aqui será proposta uma rota alternativa: voltar para um período
+ de resistência ao totalitarismo e descobrir no que ele pode nos ajudar.
+
+* Começar dentro do possível para chegar ao impossível. Mas antes
+ de falar da nossa década de 20, falemos sobre as décadas de 30
+ e 40 do século passado.
+
+* Mesmo porque a [própria esquerda partidária tem falado sobre
+ criar uma frente antifascista](http://midianinja.org/jeanwyllys/o-brasil-precisa-de-uma-frente-antifascista/).
+
+### Rebobinando...
+
+ "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me,
+ porque, afinal, eu não era comunista.
+
+ Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me,
+ porque, afinal, eu não era social-democrata.
+
+ Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei,
+ porque, afinal, eu não era sindicalista.
+
+ Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque,
+ afinal, eu não era judeu.
+
+ Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse."
+
+ -- Martin Niemöller
+
+### Naquela época...
+
+* O contexto tinha suas semelhanças.
+* Estávamos muito na merda. Fascismo crescendo. Totalitarismo.
+
+No meio da bagunça aparece um estranho personagem...
+
+### Quem é este figura?
+
+![Apenas mais um gravatinha?](images/carmille.jpeg)
+
+### A nossa cartada
+
+![Agente secreto da Rede Marco Polo](images/card.png)
+
+Saiba mais sobre Carmille [pelo resumo do livro IBM and the Holocaust](/books/history/ibm-holocaust/).
+
+### Naquele tempo, eram outros Cards
+
+![Cartão Perfurado](images/punchcard.jpg)
+
+Nota: este modelo de cartão perfurado aparentemente é de um período posterior.
+
+### SIGSTOP, SIGKILL, HALT
+
+Carmille operou em duas temporalidades:
+
+1. Urgência, curto prazo: salvar quem estava na berlinda. E fez isso em larga escala
+ apenas parando a maquinaria sem que os alemães soubessem. A ação
+ passiva Zen, a não-ação, desobediência.
+
+2. Organização, médio e longo prazo: tentar mobilizar o exército de reserva francês para
+ ações futuras da Resistência.
+
+Preso, torturado e depois enviado pro saco, não concluiu a segunda etapa do plano.
+
+### Uma lição dos tempos
+
+* Aproveitar a nossa condição, usando que temos disponível.
+* Não precisamos de super-heróis mártires: há um pouco a fazer para cada pessoa.
+
+Em especial, descobrimos que a solidariedade, e não apenas a dominação, também
+é um empreendimento logístico-informacional!
+
+### As máquinas sociais dominadoras e as solidárias
+
+* Maquinário da Dominação: cartão perfurado, registro e rastreamento: mesquinharia
+ contábil para controle, dominação e eliminação das pessoas. E dessa contagem que
+ nasce a economia muquirana baseada na escassez. A questão de fundo é o medo egoísta
+ da morte que exige extrair a vida de outrem a todo custo para tentar interromper o
+ processo vital.
+
+* Na maquinaria solidária, as vidas estão entrelaçadas, de modo que uma pessoa
+ tem sua liberdade enquanto outra também tiver. Estará bem conforme a outra também
+ estiver.
+
+### Tensionando
+
+Estas são conceituações de máquinas "puras", "perfeitas". Na prática, no caos da vida,
+as máquinas sociais reais são uma mistura desses dois modelos arquetípicos, com maior
+ou menor presença de solidariedade e dominação.
+
+Existe uma tensão permanente entre egoísmo e altruísmo que se manifesta no
+diagrama, ou máquina social.
+
+Lutar por um mundo melhor implica em mudar o balanço social em direção a uma maquinaria
+solidária.
+
+Encontrar sua faixa de operação solidária consiste em achar a região de equilíbrio
+entre cuidar de si e cuidar da outra pessoa.
+
+### As máquinas da dominação
+
+Sua violência pode ser distinguida entre
+
+* Psicológica (enganação): vulgo "softpower", "me engana que eu gosto".
+* Física: opera quando a enganação já não surte efeito.
+
+Sempre operam em par, porque não é possível enganar nem bater em todo mundo ao
+mesmo tempo; bate-se em uns enquanto diz-se pros outros que eram a raíz de
+todos os males, que mereciam mesmo etc; mantém-se entre a violência e a
+enganação pois, se as coisas ficam à mostra, o sistema não se sustenta.
+
+### As máquinas solidárias
+
+* O processo civilizador que vivemos tende a criar cada vez mais
+ mediações/separações entre as pessoas.
+
+* Associações solidárias entre pessoas resgatam o contato humano direto e
+ o compartilhamento da vida.
+
+* Organização: tensão entre o espontâneo e o planejado, entre o formal e o
+ informal, entre a ordem e a desordem.
+
+* As máquinas solidárias são máquinas antifascistas!
+
+### Como fazer máquinas solidárias?
+
+* Pergunte-me como! Quer dizer, também estou aprendendo!
+
+* Carmille não precisou estar em contato direto com que ajudava. Na verdade o essencial
+ era que ele não soubesse quem precisava de ajuda, pois isso implicaria em entregar
+ essas pessoas para os algozes.
+
+* Se o primeiro passo era estar bem para poder ajudar, o segundo passo é partir para
+ a prototipagem e construção de relações entre as pessoas.
+
+* Autodefesa: neutralização da ameaça, não necessariamente a sua aniquilação.
+
+* Máquinas solidárias podem surgir espontaneamente: pessoas se ajudando mutuamente
+ sem combinarem previamente.
+
+Não tratarei do que é espontâneo. Isso vou assumir de imediato. Vou justamente
+propor falar do que não é espontâneo, do que precisamos planejar e construir
+para que talvez um dia possa ser espontâneo. Tudo o que será dito é básico, mas
+por isso mesmo precisa ser dito.
+
+Exemplo: [Teoria do valor solidário: A Ajuda Múltipla e o Valor Social](/economics/valor-social),
+um experimento mental pensando num outro tipo de economia para a sociedade.
+
+* O termo organização acabou ficando associado apenas à menor parte das
+ organizações possíveis.
+
+* Precisamos trazer para o consciente detalhes de operação da sociedade.
+
+* A ajuda é uma forma de interação. Interações entre pessoas compõem redes.
+
+* Existem redes com escala (centralizadas, descentralizadas) e sem escala (distribuídas).
+
+* Os diagramas de interação entre as redes dizem muito sobre a concentração de poder,
+ riqueza, influência, indo das centralizadas para as distribuídas.
+
+* Redes centralizadas são mais simples e possuem uma pragmática (prática) mais linear.
+ Exigem menos habilidades e capacidades das periferias da rede e consequentemente
+ remuneram menos a periferia.
+
+* Com o aumento do número de pontos nodais (pontos de interação) aumenta o requisito
+ de habilidades de cada integrante da rede.
+
+### Estimando seu fator solidário
+
+Máquinas solidárias também calculam, porém calculam para o bem-estar.
+
+De maneira pragmática, incompleta mas que serve pra saber "o que tem pra hoje":
+
+1. O quanto você precisa dedicar do seu tempo e energia para você?
+2. O quanto você pode dedicar do seu tempo e energia para outras pessoas?
+
+A partir disso, alguém pode estimar sua relação solidária: horas semanais e
+e intensidade de esforço, por exemplo.
+
+* Uma boa estimativa garante a ação solidária de longo prazo.
+* Investir demais em você pode produzir um futuro solitário.
+* Investir demais nas outras pessoas pode te esgotar ou até te martirizar.
+* Ajudar as pessoas não pode ser uma pena ou flagelo.
+* Existem pessoas com inclinação mais egoísta ou altruísta.
+* E cada pessoa tem uma necessidade diferente.
+* E tudo bem. Estamos tentando articular algo que opere dentro
+* dos limites e possibilidades das pessoas.
+
+Esse tempo tende a ser menor do que em condições ideias. Por exemplo a expropriação
+de mais-valia pela exploração do mundo do trabalho reduz drasticamente a quantidade
+de riqueza que pode ser gerada por vias solidárias.
+
+Mas pode ser um tempo maior se nos livrarmos de práticas nocivas como tempo
+excessivo usando televisão e dispositivos móveis.
+
+### Esferas de atuação
+
+Onde e quanto você quer dispender seu tempo e energia disponíveis?
+
+* Família.
+* Amigos.
+* Vizinhança.
+* Colegas de trabalho.
+* Grupos de Afinidade.
+* Outros Movimentos Sociais Organizados.
+* Quem estiver perto.
+
+### Recursos disponíveis
+
+* Diferencias entre filantropia, caridade e ajuda mútua.
+* A ideia aqui é a autogestão, cada pessoa sendo capaz de ajudar sem precisar ser coordenada, mas capaz de integrar uma coordenação.
+
+No que você pode ajudar? O que você pode oferecer?
+
+* Calor humano?
+* Espaço para alguém dormir?
+* Artigos de dignidade básica? Comida, roupa, remédios, banheiro, local pra dormir...
+* Assistência profissional: jurídica, médica, psicológica...
+
+O trabalho solidário organizado e constante pode ser chamado como trabalho de base.
+
+### Articulando a solidariedade
+
+* A ajuda mútua compõe *redes* de pessoas, ou *tecido social.*
+* As máquinas solidárias são *teares* orgânicos desse tecido.
+* Daí que o desafio de construir redes ajuda mútua que garantam um fortalecimento do tecido.
+* Eficiência, ganho de escala podem ser conceitos danosos e falaciosos.
+* Cuidado com o hype das novas tecnologias!
+* Simplexidade: a complexidade necessária.
+* Romper separação entre teoria e prática. Pesquisa-ação, pesquisa-luta.
+
+Sua tecnologia "de ponta" (blockchain, etc) pode ser instigante, mas também
+fetichista e errar feio o alvo. Precisa funcionar. Relação entre o que queremos
+fazer (o que dá tesão) e o que não queremos fazer mas que é necessário.
+
+### Parametrização
+
+* Divisão de tarefas ou não? Revezar tarefas ou não?
+* Especialização ou generalização?
+* Horizontalidade ou verticalidade?
+* Gerência e passividade ou autogestão e iniciativa?
+* Tensão entre espontâneo e planejado.
+* Tensão entre tesão e necessidade.
+* O quanto planejar e o quanto deixar rolar? O quanto antecipar/preparar?
+* Topologia da rede, redundância, tolerância a falhas e crescimento.
+* Definição de princípios éticos pessoais e coletivos.
+* Redes: "casamento de impedâncias" / compatibilização protocolar de princípios.
+
+### Exemplos
+
+* Sobre a palavra que não é seriedade, nem engajamento; envolvimento com desapego, talvez.
+* Sugestões e dicas por onde começar. Para onde iremos, não faço a mínima ideia.
+* Tentando conceber formas de organização que funcionem na precariedade.
+* Se organizar é um exercício prático: tente de uma forma, se não de certo, tente de outra.
+* Use a dimensão lúdica das atividades!
+
+### Perguntas balizadoras
+
+* Quantas pessoas podem se abrigar na sua casa?
+* Você tem contatos de emergência para várias situações?
+* Tu tem comida pra quantos dias?
+* Jah tirou passaporte? Vacinas em dia?
+* Como anda seu preparo físico?
+* Você tem ficha médica?
+* Você já montou um procedimento padrão do que fazer em casos especiais (prisão, acidente, etc)?
+* Uma ou mais pessoas do grupo tem treinamento em primeiros socorros?
+
+Nível saco preto:
+
+* Você já tirou um molde da sua arcada dentária para facilitar eventual identificação?
+* Você anda com alguma identificação? RG, placa metálica ou pulseira?
+
+### Exemplo: Uma Rede de Solidariedade Protosindical
+
+* Pessoas que vivem próximas.
+* Reuniões periódicas: relatorias, discussões, decisões e responsabilizações.
+* Realização de tarefas.
+* Tarefas de exemplo: arrecadação de fundo de solidariedade, treinamento, mutirões, grupos de estudos.
+
+### Exemplo: Rede de Solidariedade Criptosindical
+
+<!--
+qrencode \
+ https://opsec.fluxo.info/specs/criptosindicato.html \
+ -o images/link-criptosindicato.png -s 4
+ -->
+
+Vide [Especificação: Rede de Solidariedade Criptosindical](https://opsec.fluxo.info/specs/criptosindicato.html)
+
+### Resumo
+
+* Solidariedade: uma pessoa cuida da outra.
+* Formações sociais possuem uma componente espontânea e outra que pode ser
+ voluntariamente construída e experimentada.
+
+Por enquanto é isso! Aguardem mais insucessos da franquia Brasil Hostil.
+
+## Segunda parte: saindo da lama
+
+### O Baseline
+
+* Partiremos do pressuposto básico, o critério de *dignidade universal e irrestrita.*
+* A dignidade hoje é, infelizmente, um privilégio restritíssimo.
+* Quando deveria ser uma condição básica de existência.
+* Vivemos no contexto contrário, de redução de dignidade e concentração de privilégios.
+* Falemos então de possibilidades solidárias para reverter este quadro.
+* Falaremos de distopia, mas também de utopia.
+
+### Vamo lá
+
+Truta, se ligue: a falta de garantias implica que qualquer pessoa pode se ferrar.
+Isso vale mesmo para quem defende o sistema. Não há garantias. Esta é a característica
+dos períodos de Terror.
+
+Ressaltemos alguns aspectos:
+
+1. A solidariedade, ou a falta dela.
+2. A preparação pra quando sua hora chegar, ou a falta dela.
+3. O protesto como agitação política não é suficiente para barrar retrocessos.
+
+Se pensarmos individualmente, estaremos totalmente na merda. Porque hoje, focar
+na proteção de uma pessoa de forma satisfatória às ameaças vigentes se tornou
+uma tarefa impossível. Apesar de ainda ser uma tarefa importante e fundamental.
+
+Crucial agora é dar o salto de ênfase, pensando também e muito na segurança
+de grupos sociais.
+
+Temos então dois movimentos simultâneos:
+
+1. Solidariedade -- sólida e flexível: está na manutenção da segurança e privacidade comuns.
+2. Segurança pessoal: a nossa higiene pessoal contra ameaças.
+
+### Conjuntura
+
+* Os fatores da dominação: violência e enganação.
+ * Violência psicológica (enganação): vulgo "softpower", "me engana que eu gosto".
+ * Violência física: opera quando a enganação já não surte efeito.
+ * Sempre operam em par, porque não é possível enganar nem bater em todo mundo
+ ao mesmo tempo; bate-se em uns enquanto diz-se pros outros que eram a raíz
+ de todos os males, que mereciam mesmo etc; mantém-se entre a violência e
+ a enganação pois, se as coisas ficam à mostra, o sistema não se sustenta.
+* Repetindo: a canoa emborcou. Vamos amargar alguns anos até a próxima iteração.
+* Momento de estudo, maturação, fortalecimento, solidariedade, organização e luta.
+* A janela histórica se abrirá apenas caso haja condições que comovam massivamente.
+* Enquanto isso, estamos mais ou menos que por conta.
+
+Em geral os prognósticos de luta precisam se basear na crença da possibilidade
+de vencer.
+
+A proposta a seguir, no âmbito da Segurança Operacional - OPSEC, assume que
+potencialmente tudo vai dar errado. Mas que mesmo assim vamos tentar minimizar
+os estragos.
+
+### Realpolitik
+
+É sempre importante saber qualé. Para não cair na enganação. A ilusão e o equívoco
+existem para qualquer pessoa. Mesmo a esquerda tende muitas vezes a se iludir e
+inclusive diversos de seus setores também são praticantes da violência e da enganação.
+
+Por isso, abra a cabeça, camarada, para não fugir da dominação da direita e cair
+na de alguns setores da esquerda. É um pré-requisito da esquerda emancipatória ter
+uma ética da não-violência e da não-enganação. Os meios são importantes. O modo de
+fazer é pré-figurativo.
+
+Tentam nos colocar numa sinuca de bico chamando de idealismo qualquer iniciativa ética
+que não busque a mudança a todo custo. Opõem-na à chamada *realpolitik,* erroneamente
+conhecida como política real, feita de conchavos, acordos prejudiciais e corrupções.
+
+O que seduz na realpolitik é o seu pragmatismo a todo custo, que toma atalhos mas
+que nunca, na prática, produz a mudança real. A um ganho de curtíssimo prazo se
+troca toda uma possibilidade de mudança duradoura.
+
+Mas a *política real* efetiva é aquela que pré-figura a todo tempo a sociedade em que
+queremos viver, produzindo-a de momento em momento mesmo que seja em microescala.
+Inicialmente ela não parece ser prática, porque pode ser de difícil aplicação. Mas
+ela é justamente prática porque requer que seja praticada diariamente, fazendo com
+que quem a pratique se aperfeiçoe cada vez mais.
+
+Nesse contexto, a atual luta moralista contra a corrupção perde completamente o
+sentido por diversos motivos. Principalmente, porque ela se exime de ter qualquer
+responsabilidade sobre fazer política. Querem matar a política e quem a pratica,
+mas não sugerem nenhuma outra forma de gerir a vida comum. A dominação adora
+esse tipo de gente, que pode ser facilmente delegar seu poder político para
+ser governada e que também facilmente deixa-se enganar quando convém.
+
+Tentam nos colocar numa sinuca de bico dizendo que a prática solidária horizontal
+não cresce a ponto de produzir uma mudança em grande escala. Porém, se esquecem
+que a prática pré-figurativa pode inspirar e se espalhar.
+
+### Autodefesa versus violência
+
+Confunde-se não-violência com a proibição de se autodefender e de imobilizar o oponente.
+Ao contrário da violência, a autodefesa busca a neutralização do inimigo enquanto inimigo
+e não a sua aniquilação.
+
+![Nazi punch card](images/nazi-punch-card.png)
+
+### OPSEC
+
+* Sendo ou não sendo alvo.
+* Foco individual ou coletivo.
+* Repressão (curta duração, alta intensidade, localizada) e Opressão.
+* Choque/trator: ação de impacto que provoca a neutralização de qualquer resposta social.
+
+### Alvos
+
+* Alvo difuso: quando uma ameaça é dirigia não só a você, mas a todo um grupo social; por exemplo
+ a vigilância das ruas usando câmeras.
+
+* Alvo definido: quando a ameaça é dirigida especificalmente a você ou a um grupo social pequeno
+ e bem definido; por exemplo escutas telefônicas.
+
+* Seleção de alvos: é um processo que, a partir de sistemas de vigilância difusos, pode selecionar
+ manual ou automaticamente alvos mais específicos a partir de critérios de seleção.
+
+* É melhor não ser um alvo definido. Do contrário, o custo pessoal da segurança fica impraticável.
+ Para isso, uma das melhores estratégias é não demonstrar relevância, ter um perfil low profile
+ ou se possível deixar sua identidade com pouca evidência.
+
+* Nem sempre é possível se manter na indefinição. Isso vai depender muito dos nossos papéis dentro
+ da sociedade e especialmente da nossa atuação. Muitos perfis precisam ser públicos. E conforme
+ esses perfis se tornam influentes, passam a ser alvos definidos. E aí o custo de se manter em
+ segurança passa a ser muito, muito alto, a ponto de talvez não ser mais possível a manutenção
+ da segurança por conta própria, usando apenas recursos pessoais.
+
+ Mas, os poderes do status quo tem um monopólio de uso da violência e uma capacidade de vigilância
+ que são limitados, e não conseguem colocar muitas pessoas ao mesmo tempo como alvos definidos.
+ Nesses casos, se conseguirmos mobilizar nossa capacidade de solidariedade e comoção, teremos
+ condições de ajudar as vítimas e/ou mudar a situação após quadros políticos consumados.
+
+Então o diagrama fica assim:
+
+ "big data"
+ alvos difusos
+ escala de massa
+ vigilância de baixo custo -> autodefesa mútua
+ violência aleatória (bala perdida etc)
+
+ "little data"
+ alvos definidos -> defesa coletiva e solidária
+ baixa escala
+ vigilância com alto custo
+ alta violência, direcionada
+
+Esse tipo de situação pode ser interpretada a partir desta frase (cuja atribuição a Stálin
+[não foi confirmada](https://quoteinvestigator.com/2010/05/21/death-statistic/),
+[2](https://en.wikiquote.org/wiki/Joseph_Stalin#Misattributed>)):
+
+ A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, estatística.
+
+### Solidariedade e Organização
+
+Togetherness e outridade: estar junto, de acordo com a narração do livro O Jogo de Amarelinha:
+
+![Togetherness e outridade: estar junto](images/togetherness.jpg)
+
+A solidariedade não é algo sempre automático. Não basta que nos comovamos com uma situação para
+que automaticamente consigamos agir de forma solidária e efetiva. A comoção, sem uma canalização
+das nossas energias, pode ser apenas mera catarse e dispersão de iniciativas individualizadas.
+
+É importante um diálogo do individual com o coletivo. Que não seja de sujeição, controle,
+gerenciamento verticalizado. Mas que seja *organizativo.*
+
+É a organização que permite nossa autodefesa mútua, em escala individual, e a defesa coletiva
+e solidária em escala coletiva.
+
+O termo *Organização* está em mal uso. Aqui, não estamos falando do que muita gente automaticamente
+pensa quando essa palavra é proferida. Organização aqui, não se restringe a instituições, empresas,
+partidos políticos, família ou governo.
+
+Organização aqui é entendida como qualquer possibilidade de convivência entre pessoas de forma
+horizontal, consensual, não-violenta, não-discriminatória, emancipatória, voluntária,
+igualitária/equivalente.
+
+Existem infinitas formas de organização possíveis. A humanidade experimentou apenas uma pequena
+parte do que é possível.
+
+### Organização e Esforço
+
+As organizações não se criam de huma hora para outra. Muitas delas são emergentes, isto é, aparecem
+com espontaneidade de acordo com algumas condições ambientais e socias.
+
+* No entanto, algumas organizações importantes precisam ser criadas a partir de muito esforço e não
+ necessariamente apenas na espontaneidade. Se fiar apenas no espontâneo é como que jogar tudo pro
+ alto e deixar rolar; ao contrário, focar em organizações que não deixem espaço para a espontaneidade
+ é uma receita para o engessamento e para a perda de tesão.
+
+* Saber quando o mar está pra peixe: o que vai dar certo terá uma mistura de esforço, preparação,
+ antecipação, planejamento com o que tendencialmente é propício de acontecer. Não basta que tenhamos
+ ideias brilhantes e instigantes: é preciso que haja uma potência latente e iminente para que
+ um modo de organização se multiplique.
+
+### Autogestão e ganho de escala
+
+* O gerenciamento centralizado permite ganhos de escala por padronização, uniformização e pelo
+ estabelecimento de cadeias de comando, criando assimetrias, opressão, supressão de individualidades
+ e desperdiçando o potencial mental coletivo.
+
+* Por outro lado, a autogestão opera em baixa escala permitindo a realização de potencialidades
+ individuais de forma solidária. Porém, para que a autogestão ganhe escala é preciso que ela seja
+ replicada. Isso demanda que usemos nossa mente em todo o nosso potencial.
+
+### Política e Gestão
+
+A ideologia corrente criminaliza a política e enaltece a gestão centralizada.
+Ao contrário, podermos resgatar a política com a gestão descentralizada e distribuída.
+
+Mas antes algumas definições:
+
+* Política: usualmente debate livre e sem violência de ideias para o convencimento de
+ pessoas do que precisa ser feito e os requisitos gerais de como fazer. Ela é normalmente
+ composta de acordos, compromissos e inclusive de sigilo durante algumas de suas fases,
+ mas a tomada de decisão precisa ser transparente.
+
+* Economia.
+
+* Tecnologia: a arte da vida prática: como fazer mais usando menos, desperdiçando menos e
+ dentro de uma ética do que é válido e do que não é, por exemplo conservação do ambiente
+ e não explorar ninguém.
+
+* Gestão: usualmente, a administração da técnica para realizar aquilo que foi
+ decidido. Mesmo nesta visão usual já é possível perceber que não há gestão sem
+ uma orientação política.
+
+E agora, uma redefinição: política, economia, tecnologia e gestão são conceitos entrelaçados.
+Entendidos como conceitos separados, distintos, pode servir para entendermos diferentes formas
+de se agir no mundo. Simultaneamente podem ser usados para dividir e conquistar, para afastar
+a pessoas de esferas distintas artificialmente.
+
+O pragmatismo tem distintas facetas. Atividades podem ser separadas por questões práticas,
+para facilitar a ação, mas podem criar abstrações, indireções, mediações e complexidades
+que tornam as atividades inclusive pouco práticas, abrindo a brecha para, na complexidade,
+usar e abusar da violência e da enganação.
+
+### As muitas seguranças
+
+* Afetiva, fisiológica, cognitiva, financeira, alimentar.
+* Resistência e resiliência.
+* Pontos de falha: centralização, descentralização e distribuição: redundância é fundamental.
+
+Dialógica da parada: havendo uma centralização de informação qualquer, aumenta
+a importância de tal ponto nodal; torna-se um ponto de falha, um lugar de risco
+e de interesse; é importante leva isso em conta ao criar sistemas de informação
+para mobilização; fundamental saber o limite de armazenamento de um ponto nodal
+para equilibrar o quanto ele pode articular organizacionalmente minimizando os
+riscos de vazamento.
+
+### O que é o que é
+
+* OUT: fatalismo - fodeu, não há o que fazer!
+* IN: mesmo que não dê certo, vamos tentar.
+
+* OUT: agir apenas no espontaneísmo.
+* IN: planejar, respirar, se organizar mas também deixar espaço para o inesperado.
+
+* OUT: depressão e solidão.
+* IN: elas baterão na sua porta, talvez você já ande com elas, mas cultivá-la
+ não é a ferramenta correta para superarmos o estado de coisas.
+
+* OUT: agir apenas por conta própria.
+* IN: você não vai se garantir completamente.
+
+* OUT: martirização, levar o mundo nas costas.
+* IN: pra funcionar, é importante que cada pessoa contribua o quanto pode;
+ a gente não vai dar conta de tudo; isso é ótimo, porque isso quebra a
+ expectativa de que salvemos o mundo por conta própria, sendo um convite
+ para que mais pessoas participem e contribuam onde não conseguimos incidir.
+
+* OUT: heroísmos e culto à personalidade.
+* IN: somos pessoas de carne e osso; todo mundo tem limitações, mas sobre
+ essas limitações trabalhamos com sobreposição e complementaridade.
+
+* OUT: viver apenas das emergências, urgências e apagação de fogo.
+ IN: se preocupar também com a preparação e a antecipação.
+
+* OUT: protesto xoxo.
+* IN: cadê o carnaval anticapitalista dos anos 90 e 2000?
+
+* OUT: achar que ativismo é só fazer manifestação.
+* IN: a manifestação é uma flexão muscular social, mas para que ela exista é necessário
+ que haja um músculo social sadio em primeiro lugar; e ele é composto de muito trabalho
+ de base, constância e planejamento.
+
+* OUT: Guerrilha dos anos 70. O foquismo é um método de aplicação e resultados restritos,
+ além do alto custo vital.
+* IN: Resistência Antifascista dos anos 30 e 40.
+
+* OUT: ser enquadrado nas LSN, na Lei Antiterror e na LOC.
+ IN: jogar de novas formas; se adotarmos os mesmos métodos que o status quo, seremos
+ varridos facilmente.
+
+### O mundo é um emaranhado de NÓS
+
+Tudo isto aqui é básico. E forma uma espécie de protocolo de organização pessoal e coletiva.
+E galera, isso aqui é tudo exemplo. Não tou querendo dizer que as coisas devem ser assim ou
+assado. Tou dando ideias pra vocês adotarem o que quiserem.
+
+* Cálculo de pessoas/hora disponíveis.
+* 1h/semana por exemplo; com avanços incrementais.
+* Uma cerva a menos, R$10 por semana como fundo de caixa. E você vai cair na bebedeira igualmente.
+* Montar uma checklist pra você e pro seu grupo daquilo que for mais importante pra vocês
+ se prepararem.
+* Mas sem plataforma de organização da precariedade como um "Uber do Ativismo". Smartcontracts
+ é o ultraneoliberalismo degradando ainda mais as relações sociais; nosso movimento precisa ser
+ inverso, de acordos e protocolos que aproximem ao invés de afastar pessoas.
+* É importante que saibamos nos organizar sem plataformas computacionais e sem aplicativos.
+* Existem organizações que se mantém sem nada disso.
+* Um grupo coeso funciona bem pra isso. Antigamente chamávamos de "grupo de afinidade".
+* Idealmente, faça parte também de grupos com a possibilidade de convívio presencial.
+* Mas também nutra relações remotas.
+* A solidariedade pode percorrer escalas de tempo e espaço maiores do que nós!
+
+### Etapia: para além da utopia e da distopia
+
+Uma fala caótica. Pesquisa em construção. Somente pontos de partida, não de chegada.
+Este texto apenas toca num problema de fundo, que é a relação da utopia com a distopia.
+
+Podemos esboçar uma articulação possível de um caminhar tendo a utopia como direção e
+sentido:
+
+ UTOPIA como a próxima ETAPA
+ ETAPIA, utopia em passos incrementais, discretos
+
+* Distopia: lugar de merda, "tamos fodidos", onde não queremos estar
+* Utopia: Morus, lugar nenhum; Huxley: aqui e agora.
+* Atopia? Etapia?
+
+Topos vira tapas! Do luto à luta!
+
+### Reforma e revolução
+
+Etapia e o conflito Reformismo X Revolução: de certa maneira este conflito é
+falso. Ao atingir uma etapa suficiente de organização e mobilização, o
+movimento social está em condição de promover as mudanças necessárias para
+acabar com o sistema de dominação. Daí que reforma e revolução, no sentido
+estrito, são diferenças de escala de tempo e espaço. O que não invalida a
+oposição real entre reformismo (preferir concorrer à eleições etc) e
+revolucionarismo (optar por trabalho de base).
+
+A diferença começa a se acentuar também quando ambas escolhas se revelam
+antagônicas e um dos grupos tenta suprimir o outro. Aí, nesse sentido, reforma
+e revolução passam a ser duas abordagens muito distintas e concorrentes:
+disputa da etapa atual. Ou seja, por outro lado o conflito Reformismo X
+Revolução é muito real.
+
+É possível mostrar, também, que a ancestralidade, de onde alguém vem, por ser
+formulada como uma cadeia de eventos, uma sequência de ETAPIAS.
+
+### Resumo
+
+A tecnologia de hoje é muitas ordens de grandeza mais poderosa do que nos tempos de Carmille.
+
+Não mais cartões perfurados senão a própria biometria, por exemplo
+reconhecimento facial, em que o próprio rosto da pessoa é convertido em sua
+marca da besta particular, não sendo mais necessária a tatuagem da colônia
+penal que agora é reduzida apenas à sua dimensão torturante e traumática.
+
+A figura da máscara de ar é uma alegoria e partida, não de chegada. Enquanto
+máscara nos dá ar, mas não podemos nos mascarar -- no sentido de falsear-nos --
+para praticar solidariedade ou perderemos nossa autenticidade. A ajuda pode ser
+mútua e não apenas unidirecional.
+
+### Sugestões para desenvolvimentos futuros
+
+Finalizar redação inicial:
+
+* Rene Carmille e a Rede Marco Polo da Resistência Antifascista Francesa. Uso de TICs pra resistir.
+* Disclaimer básico para os agentes do sistema?
+* Rolê em Lins, vazando pra Passárgada: clandestinidade e exílio.
+* Estado de exceção (Agamben) e Terror (França contra-revolucionária).
+* Incluir legislação, inclusive projetos de lei piorantes (antiterror, rastreamento etc).
+* Modelos: Cruz Negra Anarquista, Operações Especiais, etc.
+* Criptosindicato: como nos primeiros sindicatos, organização básica para custeio de funerais, pensões, greves.
+* Hierarquia, heterarquia, poliarquia, anarquia.
+* Duração no tempo, institucionalização, transição geracional.
+* O par egoísmo-servidão, ou a servidão voluntária.
+
+### Referências
+
+Recursos:
+
+* [Brasil Hostil](https://brasilhostil.org).
+* [OPSEC - ISO 1312](https://opsec.fluxo.info).
+* [Guia de Autodefesa Digital](https://manual.fluxo.info).
+* [Clipping "Brasil Hostil"](https://links.fluxo.info/tags/brasil%20hostil).
+
+Misc:
+
+* [Villas Bôas é o centro das atenções em evento em Brasília](https://oglobo.globo.com/brasil/villas-boas-o-centro-das-atencoes-em-evento-em-brasilia-22560720).
+* [Nada mais representativo do que o beijo do Jungmann na testa do Comandante Villas Boas, um dia depois da sessão do habeas corpus de Lula no STF](https://twitter.com/pedromachadoba/status/982000461409550336).
+* [General Paulo Chagas sobre "baderna"](https://twitter.com/GenPauloChagas/status/982061528345083904?s=19).
+
+Fotos:
+
+* [Munição utilizada em assassinato de Marielle Franco é de lotes vendidos à Polícia Federal](http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2018/03/municao-utilizada-em-assassinato-de-marielle-franco-e-de-lotes-vendidos-a-policia-federal-10191622.html).
+* [Interventor federal diz que 'Rio é um laboratório para o Brasil'](https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/autoridades-detalham-medidas-da-intervencao-federal-o-rio-de-janeiro.ghtml#).
+* [Punch positions in card](http://www.columbia.edu/cu/computinghistory/punch.html).
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diff --git a/events/2018/cryptorave/hostil/slides.md b/events/2018/cryptorave/hostil/slides.md
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index 0000000..372a744
--- /dev/null
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@@ -0,0 +1,545 @@
+[[!meta title="Tendências Brasil Hostil para a Década de 20 - Slides"]]
+[[!meta date="2018-05-06 11:00:00-0300"]]
+
+ "E essa agora que o General da intervenção disse que o
+ Rio de Janeiro é um Laboratório para o Brasil?
+ E nós somos as cobaias??? Absurdo!"
+
+ -- Marielle Franco, em mensagem de 27/02/18
+
+ "E eu sei quem são meus amigos eternos e quem são
+ os eventuais. Os de gravatinha, que iam atrás de mim,
+ agora desapareceram."
+
+ -- Lula, em seu discurso de 07/04/18
+
+# Recapitulando, mas sem capitular
+
+<!--
+qrencode https://blog.fluxo.info/events/2017/cryptorave/hostil/slides.pdf \
+ -o ../images/link-ano-passado.png -s 4
+ -->
+
+![https://blog.fluxo.info/events/2017/cryptorave/hostil/slides.pdf](../images/link-ano-passado.png)
+
+# Como estávamos?
+
+<!-- Quem viu as palestras dos anos anteriores? -->
+
+* 2016: Brasil Hostil - Circuito Grampolândia: a República da Escuta:
+ vigilância generalizada - https://grampo.org.
+
+* 2017: Brasil Hostil - Etapa República de Weimar: efervescência política e
+ avanço do arcabouço jurídico da repressão.
+
+<!-- PNI, GLO, LOC, LSN, Lei Anti-Terror, Código Penal, Operações Extra-Oficiais... -->
+
+Falamos sobre OPSEC - Segurança Operacional, dando ênfase na preparação para
+pessoas e grupos enfrentarem as dificuldades da vida e estarem à frente da
+repressão e desestabilização social.
+
+<!--
+ Onde aquela palestra termina, esta começa: Círculos de Solidariedade o organização coletiva.
+ -->
+
+# Como estamos?
+
+* 2018: Brasil Hostil - Edição Intervenção Foderal.
+
+* Fim de muitos ciclos aqui e no mundo. Talvez até de grandes períodos sob a
+ égide do Iluminismo ou do Renascimento.
+
+* Mas chega de prosa. Bora dar um giro?
+
+# Attention! Achtung! Attenzione! Atenção!
+
+![Recadinho do General para turistas](../images/baderna.png)
+
+# Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Bordel
+
+![Ritual dos Sádicos no clube hedonista "Bahamas"](../images/bahamas.png)
+
+<!--
+ Parece uma cena de enforcamento pré-Thermidoriana.
+ -->
+
+# Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Personalidades
+
+![Ministro da Defesa reverenciando o General](../images/beijo-chefao.jpg)
+
+# Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Emboscadas
+
+![Marielle: morte sem ameaças prévias](../images/carro-marielle.jpeg)
+
+<!--
+ Essa cena me lembrou do fusca do Marighella.
+ -->
+
+# Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Moda
+
+![Trench Coat Militar](../images/trench-coat.jpg)
+
+# Mini-tour Brasil Hostil 2018 - Polvo
+
+![Kit Palhacitos](../images/tuiuti-pato-fantoche.jpg)
+
+<!--
+ Fantasia ou realidade?
+ Vizú de carnaval tirando um côco da imbecilidade
+ -->
+
+# E o mundo em geral, a quantas desanda?
+
+![Zombie Nation](../images/facebook-zombies.jpeg)
+
+# Tendências para a Década de 20
+
+Em bom protuguês:
+
+<!-- * Um FEBEAPÁ pornográfico. -->
+<!-- Tem gente muito mais informada do que eu pra dar um diagnóstico melhor. -->
+
+* Elite local tentado dar o salto para se tornar elite global via
+ privatização extrema e entreguismo; indícios de forte parceria entre o crime
+ organizado do andar de cima e do de baixo (facções); e por aí vai.
+ Um processo cheio de ruídos.
+
+* Estado de exceção permanente, Terror, necropolítica, pós-realidade.
+ Muita gente vai rodar.
+
+* Fascismo de consumo em momento de recessão econômica.
+
+* Falta de narrativa que dê sentido à existência frente ao abismo.
+
+* Choque, luto, depressão, paralisia.
+
+<!-- Momento pouco propício para que a mobilização se amplie. -->
+<!-- Vivi isso antecipadamente. -->
+
+# Então fodeu?
+
+* A canoa emborcou. Pode ser que amarguemos alguns anos até a próxima iteração.
+
+* Protestos e mobilizações passam por uma fase de esgotamento e
+ insuficiência.
+
+* A janela histórica pode se abrir havendo comoção massiva.
+
+<!--
+* Este século pode ser decisivo para o futuro da humanidade.
+ Possibilidade de obsolescência incluindo o humano. Ainda não sabemos.
+ -->
+
+* Enquanto isso, estamos mais ou menos que por conta. Enquanto isso...
+ bom... havendo vida há esperança.
+
+# Por onde (re-)começar?
+
+* O que a gente faz depois de sobreviver a uma avalanche?
+
+* Momento de estudo, maturação, fortalecimento, solidariedade, organização e luta.
+
+* A gente começa pequeno e cuida do básico essencial. Fazendo bem, a parada
+ cresce.
+
+* No passado falamos muito de _segurança._ Agora nossa ênfase será
+ na ideia de _organização._ E falaremos das organizações _solidárias._
+
+# Solidariedade: egoísmo e altruísmo
+
+O fundamento da solidariedade é a **tensão** dinâmica entre egoísmo (cuidar de si,
+receber cuidados) e altruísmo (cuidar de outrem, aceitar os cuidados de outrem).
+A isto chamaremos de _ajuda mútua._
+
+![Afresco egípcio sobre segurança aérea, séc. XX D.C.](../images/egiptian-safety-sheet.png)
+
+<!--
+Essa figura é curiosa. Note que o cuidado é associado a um papel feminino.
+Ao mesmo tempo, o estado frágil, desprotegido e sem máscara, é caracterizado
+pela roupa na cor rosa, enquanto que no estado de salvação a roupa passa a ser
+azul, uma cor na época usualmente associada ao papel masculino. Essa civilização
+possivelmente tinha muitos problemas relativos à atribuição de papéis a gêneros.
+-->
+
+<!-- Sacos de vômito também são bem-vindos. -->
+
+"Solidariedade" aqui não será entendida no termo clássico, de solidez e apenas "soma
+do todo". Será mais *fluido:* a relação local/global.
+
+<!--
+O problema do termo "solidariedade": sólido, solidez, "soma do todo": visão
+eminentemente globalista, totalizante. Aqui iremos usar o termo solidariedade
+mais no sentido da ajuda mútua: relações locais entre pessoas e grupos que
+compõem um tecido social global.
+-->
+
+<!--
+Então, primeiramente... cuidar da dor. Fazer o luto. Cicatrizar. Saber o quanto é
+preciso estar bem para pode ajudar. Aceitar ajuda.
+
+A via é de mão dupla e o puro antagonismo entre os termos não nos serve.
+Os vínculos _sólidos_ podem ao mesmo tempo serem fluídos. Fluidariedade.
+
+Diferenciar ajuda mútua do conceito liberal de "liberdade, igualdade e fraternidade".
+
+Diferenciar ajuda mútua de Esquema Ponzi:
+http://www.dinheiroganhar.net/ajuda-mutua-e-crime-saiba-a-verdade/
+ -->
+
+<!--
+# Bem-estar
+
+* Os afetos _tristes_ reduzem nossa capacidade de ação. Estar junto favorece
+ os afetos _alegres,_ fundamentais para a mudança.
+
+* É incrível como às vezes a gente consegue ajudar mesmo estando em frangalhos.
+ Outras vezes não.
+
+* O Duplo Movimento de renúncia e libertação: tirar o peso do mundo das costas
+ para poder mudar o mundo. Poder respirar primeiro para assim poder mergulhar de novo.
+
+* Os múltiplos movimentos: a dificuldade humana de relacionar escalas: micro-macro,
+ temporalidades, local-global, aqui-e-agora etc.
+ -->
+
+# Os movimentos e os caminhos
+
+<!--
+* Esta é uma proposta para ajudar no caminho de hoje. Utopia vista como narrativa
+ de onde podemos chegar que nos ajuda a andar. Não como ponto de chegada.
+
+* Pode ser que o trampo deste geração seja preparar o terreno para a próxima...
+
+* Pode ser que precisamos olhar para gerações (iterações) passadas e checar
+ alguns detalhes que passaram batidos...
+ -->
+
+* A ajuda mútua pode ser a orientação básica para praticar e propagar
+ formas de existência mais dignas.
+
+* Mas apenas essa orientação é insuficiente. Apenas a prática espontânea
+ da ajuda também é insuficiente.
+
+* É necessária uma solidariedade além do meramente espontâneo e que gere algum
+ acúmulo, um ganho organizativo que permita um salto, mesmo que lá na frente.
+
+* Precisamos de solidariedade _organizada._
+
+# O que fazer?
+
+* Poderíamos buscar teorias progressistas para repensar no que fazer.
+
+* Mas aqui será proposta uma rota alternativa: voltar para um período
+ de resistência ao totalitarismo e descobrir no que ele pode nos ajudar.
+
+* Começar dentro do possível para chegar ao impossível. Mas antes
+ de falar da nossa década de 20, falemos sobre as décadas de 30
+ e 40 do século passado.
+
+<!--
+* Mesmo porque a própria esquerda partidária tem falado sobre
+ criar uma frente antifascista...
+ -->
+
+# Rebobinando...
+
+ "Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me,
+ porque, afinal, eu não era comunista.
+
+ Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me,
+ porque, afinal, eu não era social-democrata.
+
+ Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei,
+ porque, afinal, eu não era sindicalista.
+
+ Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque,
+ afinal, eu não era judeu.
+
+ Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse."
+
+ -- Martin Niemöller
+
+# Naquela época...
+
+* O contexto tinha suas semelhanças.
+* Estávamos muito na merda. Fascismo crescendo. Totalitarismo.
+
+No meio da bagunça aparece um estranho personagem...
+
+# Quem é este figura?
+
+![Apenas mais um gravatinha?](../images/carmille.jpeg)
+
+# A nossa cartada
+
+![Agente secreto da Rede Marco Polo](../images/card.png)
+
+# Naquele tempo, eram outros Cards
+
+![Cartão Perfurado](../images/punchcard.jpg)
+
+<!-- Este modelo de cartão perfurado aparentemente é de um período posterior. -->
+
+# SIGSTOP, SIGKILL, HALT
+
+Carmille operou em duas temporalidades:
+
+1. Urgência, curto prazo: salvar quem estava na berlinda. E fez isso em larga escala
+ apenas parando a maquinaria sem que os alemães soubessem. A ação
+ passiva Zen, a não-ação, desobediência.
+
+2. Organização, médio e longo prazo: tentar mobilizar o exército de reserva francês para
+ ações futuras da Resistência.
+
+Preso, torturado e depois enviado pro saco, não concluiu a segunda etapa do plano.
+
+# Uma lição dos tempos
+
+* Aproveitar a nossa condição, usando que temos disponível.
+* Não precisamos de super-heróis mártires: há um pouco a fazer para cada pessoa.
+
+Em especial, descobrimos que a solidariedade, e não apenas a dominação, também
+é um empreendimento logístico-informacional!
+
+# As máquinas sociais dominadoras e as solidárias
+
+* Maquinário da Dominação: cartão perfurado, registro e rastreamento: mesquinharia
+ contábil para controle, dominação e eliminação das pessoas. E dessa contagem que
+ nasce a economia muquirana baseada na escassez. A questão de fundo é o medo egoísta
+ da morte que exige extrair a vida de outrem a todo custo para tentar interromper o
+ processo vital.
+
+* Na maquinaria solidária, as vidas estão entrelaçadas, de modo que uma pessoa
+ tem sua liberdade enquanto outra também tiver. Estará bem conforme a outra também
+ estiver.
+
+<!--
+# Tensionando
+
+Estas são conceituações de máquinas "puras", "perfeitas". Na prática, no caos da vida,
+as máquinas sociais reais são uma mistura desses dois modelos arquetípicos, com maior
+ou menor presença de solidariedade e dominação.
+
+Existe uma tensão permanente entre egoísmo e altruísmo que se manifesta no
+diagrama, ou máquina social.
+
+Lutar por um mundo melhor implica em mudar o balanço social em direção a uma maquinaria
+solidária.
+
+Encontrar sua faixa de operação solidária consiste em achar a região de equilíbrio
+entre cuidar de si e cuidar da outra pessoa.
+
+# As máquinas da dominação
+
+Sua violência pode ser distinguida entre
+
+* Psicológica (enganação): vulgo "softpower", "me engana que eu gosto".
+* Física: opera quando a enganação já não surte efeito.
+
+Sempre operam em par, porque não é possível enganar nem bater em todo mundo ao
+mesmo tempo; bate-se em uns enquanto diz-se pros outros que eram a raíz de
+todos os males, que mereciam mesmo etc; mantém-se entre a violência e a
+enganação pois, se as coisas ficam à mostra, o sistema não se sustenta.
+ -->
+
+# As máquinas solidárias
+
+* O processo civilizador que vivemos tende a criar cada vez mais
+ mediações/separações entre as pessoas.
+
+* Associações solidárias entre pessoas resgatam o contato humano direto e
+ o compartilhamento da vida.
+
+* Organização: tensão entre o espontâneo e o planejado, entre o formal e o
+ informal, entre a ordem e a desordem.
+
+* As máquinas solidárias são máquinas antifascistas!
+
+# Como fazer máquinas solidárias?
+
+<!--
+* Pergunte-me como! Quer dizer, também estou aprendendo!
+
+* Carmille não precisou estar em contato direto com que ajudava. Na verdade o essencial
+ era que ele não soubesse quem precisava de ajuda, pois isso implicaria em entregar
+ essas pessoas para os algozes.
+ -->
+
+* Se o primeiro passo era estar bem para poder ajudar, o segundo passo é partir para
+ a prototipagem e construção de relações entre as pessoas.
+
+* Autodefesa: neutralização da ameaça, não necessariamente a sua aniquilação.
+
+* Máquinas solidárias podem surgir espontaneamente: pessoas se ajudando mutuamente
+ sem combinarem previamente.
+
+Não tratarei do que é espontâneo. Isso vou assumir de imediato. Vou justamente
+propor falar do que não é espontâneo, do que precisamos planejar e construir
+para que talvez um dia possa ser espontâneo. Tudo o que será dito é básico, mas
+por isso mesmo precisa ser dito.
+
+<!--
+Teoria do valor solidário: A Ajuda Múltipla e o Valor Social -
+https://blog.fluxo.info/economics/valor-social/
+
+Experimento mental pensando num outro tipo de economia para a sociedade.
+ -->
+
+<!--
+* O termo organização acabou ficando associado apenas à menor parte das
+ organizações possíveis.
+
+* Precisamos trazer para o consciente detalhes de operação da sociedade.
+
+* A ajuda é uma forma de interação. Interações entre pessoas compõem redes.
+
+* Existem redes com escala (centralizadas, descentralizadas) e sem escala (distribuídas).
+
+* Os diagramas de interação entre as redes dizem muito sobre a concentração de poder,
+ riqueza, influência, indo das centralizadas para as distribuídas.
+
+* Redes centralizadas são mais simples e possuem uma pragmática (prática) mais linear.
+ Exigem menos habilidades e capacidades das periferias da rede e consequentemente
+ remuneram menos a periferia.
+
+* Com o aumento do número de pontos nodais (pontos de interação) aumenta o requisito
+ de habilidades de cada integrante da rede.
+ -->
+
+# Estimando seu fator solidário
+
+<!-- Máquinas solidárias também calculam, porém calculam para o bem-estar. -->
+
+De maneira pragmática, incompleta mas que serve pra saber "o que tem pra hoje":
+
+1. O quanto você precisa dedicar do seu tempo e energia para você?
+2. O quanto você pode dedicar do seu tempo e energia para outras pessoas?
+
+A partir disso, alguém pode estimar sua relação solidária: horas semanais e
+e intensidade de esforço, por exemplo.
+
+<!--
+Uma boa estimativa garante a ação solidária de longo prazo.
+Investir demais em você pode produzir um futuro solitário.
+Investir demais nas outras pessoas pode te esgotar ou até te martirizar.
+Ajudar as pessoas não pode ser uma pena ou flagelo.
+
+Existem pessoas com inclinação mais egoísta ou altruísta.
+E cada pessoa tem uma necessidade diferente.
+E tudo bem. Estamos tentando articular algo que opere dentro
+dos limites e possibilidades das pessoas.
+ -->
+
+<!--
+Esse tempo tende a ser menor do que em condições ideias. Por exemplo a expropriação
+de mais-valia pela exploração do mundo do trabalho reduz drasticamente a quantidade
+de riqueza que pode ser gerada por vias solidárias.
+
+Mas pode ser um tempo maior se nos livrarmos de práticas nocivas como tempo
+excessivo usando televisão e dispositivos móveis.
+ -->
+
+# Esferas de atuação
+
+Onde e quanto você quer dispender seu tempo e energia disponíveis?
+
+* Família.
+* Amigos.
+* Vizinhança.
+* Colegas de trabalho.
+* Grupos de Afinidade.
+* Outros Movimentos Sociais Organizados.
+* Quem estiver perto.
+
+# Recursos disponíveis
+
+<!-- Diferencias filantropia, caridade e ajuda mútua. -->
+<!-- A ideia aqui é a autogestão, cada pessoa sendo capaz de ajudar sem precisar ser coordenada, mas capaz de integrar uma coordenação. -->
+
+No que você pode ajudar? O que você pode oferecer?
+
+* Calor humano?
+* Espaço para alguém dormir?
+* Artigos de dignidade básica? Comida, roupa, remédios, banheiro, local pra dormir...
+* Assistência profissional: jurídica, médica, psicológica...
+
+<!-- O trabalho solidário organizado e constante pode ser chamado como trabalho de base. -->
+
+# Articulando a solidariedade
+
+* A ajuda mútua compõe *redes* de pessoas, ou *tecido social.*
+* As máquinas solidárias são *teares* orgânicos desse tecido.
+* Daí que o desafio de construir redes ajuda mútua que garantam um fortalecimento do tecido.
+* Eficiência, ganho de escala podem ser conceitos danosos e falaciosos.
+* Cuidado com o hype das novas tecnologias!
+* Simplexidade: a complexidade necessária.
+* Romper separação entre teoria e prática. Pesquisa-ação, pesquisa-luta.
+
+<!--
+Sua tecnologia "de ponta" (blockchain, etc) pode ser instigante, mas também fetichista e errar feio o alvo. Precisa funcionar. Relação entre o que queremos fazer (o que dá tesão) e o que não queremos fazer mas que é necessário.
+-->
+
+# Parametrização
+
+* Divisão de tarefas ou não? Revezar tarefas ou não?
+* Especialização ou generalização?
+* Horizontalidade ou verticalidade?
+* Gerência e passividade ou autogestão e iniciativa?
+* Tensão entre espontâneo e planejado.
+* Tensão entre tesão e necessidade.
+* O quanto planejar e o quanto deixar rolar? O quanto antecipar/preparar?
+* Topologia da rede, redundância, tolerância a falhas e crescimento.
+* Definição de princípios éticos pessoais e coletivos.
+* Redes: "casamento de impedâncias" / compatibilização protocolar de princípios.
+
+# Exemplos
+
+<!-- Da seriedade ao engajamento. -->
+
+* Sugestões e dicas por onde começar. Para onde iremos, não faço a mínima ideia.
+* Tentando conceber formas de organização que funcionem na precariedade.
+* Se organizar é um exercício prático: tente de uma forma, se não de certo, tente de outra.
+* Use a dimensão lúdica das atividades!
+
+# Perguntas balizadoras
+
+* Quantas pessoas podem se abrigar na sua casa?
+* Você tem contatos de emergência para várias situações?
+* Tu tem comida pra quantos dias?
+* Jah tirou passaporte? Vacinas em dia?
+* Como anda seu preparo físico?
+* Você tem ficha médica?
+* Você já montou um procedimento padrão do que fazer em casos especiais (prisão, acidente, etc)?
+* Uma ou mais pessoas do grupo tem treinamento em primeiros socorros?
+
+<!--
+* Quantas pessoas podem dormir na sua casa?
+* Antitetanica e outras vacinas em dia?
+* Você já tirou um molde da sua arcada dentária para facilitar eventual identificação?
+* Você anda com alguma identificação? RG, placa metálica ou pulseira?
+ -->
+
+# Exemplo: Uma Rede de Solidariedade Protosindical
+
+* Pessoas que vivem próximas.
+* Reuniões periódicas: relatorias, discussões, decisões e responsabilizações.
+* Realização de tarefas.
+* Tarefas de exemplo: arrecadação de fundo de solidariedade, treinamento, mutirões, grupos de estudos.
+
+# Exemplo: Rede de Solidariedade Criptosindical
+
+<!--
+qrencode \
+ https://opsec.fluxo.info/specs/criptosindicato.html \
+ -o ../images/link-criptosindicato.png -s 4
+ -->
+
+![https://opsec.fluxo.info/specs/criptosindicato.html](../images/link-criptosindicato.png)
+
+<!--
+# Resumo
+
+* Solidariedade: uma pessoa cuida da outra.
+* Formações sociais possuem uma componente espontânea e outra que pode ser
+ voluntariamente construída e experimentada.
+-->
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