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-rw-r--r--books/filosofia/metodo.mdwn213
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diff --git a/books/filosofia/metodo.mdwn b/books/filosofia/metodo.mdwn
index e4ded20..1799703 100644
--- a/books/filosofia/metodo.mdwn
+++ b/books/filosofia/metodo.mdwn
@@ -709,6 +709,41 @@ Sujeito (220):
* Problemas e vulnerabilidades da estrutura em rede centralista/hierárquica/especializada: 359.
+ A hierarquia constitui uma estrutura de sujeição, na qual os seres celulares
+ estão sujeitos aos indivíduos policelulares, sujeitos Pas sociedades de que
+ fazem parte. Os seres sujeitados continuam sujeitos, mas na ignorância (e, no
+ caso dos humanos, na inconsciência), trabalham para os fins dos sujeitos que os
+ sujeitam.
+
+ Mesmo quando há arquitetura de emergências, a organização hierárquica comporta
+ uma certa alienação do sujeito (que trabalha para os outros trabalhando para si)
+ e uma virtualidade de subjugação e de exploração (remeto para as definições
+ dadas na primeira parte). É, efetivamente, a partir do controle e da dominação:
+ do baixo pelo alto, da parte pelo todo, do micro pelo macro, dos executantes
+ pelos componentes, dos informados pelos informantes, que se estabelecem as
+ relações de exploração infra-organizacional. E de fato, as "altas" formas
+ globais (do organismo, da sociedade) mantêm-se e perduram no e pelo turnover
+ das "baixas" formas, ou seja, vivem de mortes/renascimentos initerruptos dos
+ indivíduos celulares, verdadeiro fluxo regenerador que mantém a permanência,
+ a estabilidade, a sobrevivência do indivíduo sujeitante.
+
+ -- 350-351
+
+ A organização recorrente relativiza a noção de hierarquia, uma vez que a
+ hierarquia depende, na sua própria existência, daquilo que depende dela.
+ Temos de ir mais longe e reconhecer que, em toda a organização viva, a
+ organização hierárquica precisa de organização não-hierárquica.
+
+ [...]
+
+ A anarquia não é a não-organização, é a organização que se efetua a partir
+ das associações-interações sinérgicas entre seres computantes, sem que,
+ para tal, haja necessidade de comando ou controle emanando dum nível
+ superior. É assim que se constituem as eco-organizações. Ora esta anarquia
+ sem controle superior constitui um todo que estabelece seu controle superior.
+
+ -- 352
+
Enfim, o parasitismo desenvolve-se no seio das organizações
cêntricas/hierárquicas/especializadas do nosso universo antropossocial. Com
efeito, o indivíduo ou a casta que detêm o poder de Estado podem saciar sem
@@ -739,7 +774,7 @@ Sujeito (220):
[...]
Talvez -- talvez? -- toda mudança de escala, todo salto em direção a um
- metassistema mais amplo deva aoagar0sem num primeiro estádio, com uma pobreza
+ metassistema mais amplo deva apagar-se, num primeiro estádio, com uma pobreza
organizacional, misto de ordem rígida e de desordem destruidora, antes de
aparecerem as estruturas e emergências novas? E, neste sendido, estamos na era
de gênese uraniana de uma organização social que ainda não encontrou a
@@ -754,3 +789,179 @@ Sujeito (220):
sociedade.
-- 368-369
+
+### Bios
+
+* Ser vivo gerador de acaso; liberdade, criatividade e eventualidade, 409.
+* Autopoiese, 417.
+
+ Vimos que, para lá de um certo número de interações e de indeterdependências,
+ para lá de um certo grau de complicação, se torna impossível calcular e
+ conhecer os processos de um fenômeno. Niels Bohr formulara-o à sua maneira:
+ "É impossível efetuar medidas físicas e químicas completas sobre um
+ organismo sem matá-lo".
+
+ -- 421
+
+### Complexidade, lógica e contradição
+
+* Simples, simplicidade, simplificação na ciência, 432.
+
+ O pensamento complexo, animado pela dupla exigência de completude (não a
+ "totalidade", mas a não-mutilação) e de coesão, conduz num determinado momento
+ a uma brecha lógica: a contradição. Será necessário que um diktat lógico
+ exterior e abstrato condene a exigência de lógica interior que conduziu à
+ contradição? Não será antes necessário imaginar que o surgimento da contradição
+ opera a abertura súbita de uma cratera no discurso sob o impulso das camadas
+ profundas do real?
+
+ -- 425
+
+ A lógica aristotélica corresponde à igualdade estática imediata das "coisas",
+ objetos sólidos como pedra ou mesa, recortados ou isolados no tempo e no
+ ambiente. O princípio do terceiro excluído e o princípio de identidade
+ concernem sistemas "fechados", que definimos não só sem referência ao seu
+ ambiente, mas também sem ter em conta o segundo princípio da termodinâmica, que
+ constitui um princípio de transformação interna dos sistemas fechados. Assim,
+ logo que se trata de sistema aberto, e singularmente de vida, "o princípio do
+ terceiro excluído de identidade define um ser empobrecido, separado entre meio
+ e indivíduo" (Simondon, 1964, p.17).
+
+ Embora insuficientes para caracterizar as entidades complexas, esta lógica
+ permite-nos arrancar os seres ou objetos à confusão, identificá-los num
+ primeiro grau, e é necessária às operações seqüenciais do raciocínio
+ complexo. Repetimos: não só o raciocínio complexo deve ser coerente mas é a
+ sua própria coerência que conduz às contradições.
+
+ Quando o pensamento simplificador encontra uma contradição que não pode ser
+ superada, volta atrás exclamando "erro'. O pensamento complexo aceita o
+ desafio das contradições. Não poderia ser, como a dialética, a "superação"
+ (Aufhebung) das contradições. É a sua desocultação, a sua evidenciação,
+ e recorre ao corpo-a-corpo com a contradição.
+
+ [segue uma bela descrição sobre o surgimento de uma contradição]
+
+ Daí em diante importa inverter o modo de pensamento simplificador que,
+ postulando a adequação absoluta entre a lógica e o real, opera de fato
+ a redução "idealista" do real à lógica. Temos de reconhecer que real
+ e lógico não se identificam totalmente.
+
+ [...]
+
+ Para o conhecimento complexo, a contradição não é somente o sinal de um absurdo
+ de pensamento. Pode tornar-se o detector de camadas profundas do real.
+ Constitui então já não o detector do erro e do falso mas o indício e o anúncio
+ do verdadeiro.
+
+ [prossegue com uma bela fala sobre a lógica ilógica do vivo e o enriquecimento
+ do princípio de incerteza]
+
+ [...]
+
+ O pensamento não serve à lógica: serve-se dela. O problema é: como servir-se?
+
+ -- 427-429
+
+### Complexidade e simplicidade
+
+* Robotização do ser vivo pelo pensamento simplificador, 434.
+* Marxismo, sistemismo e simplificação, 435.
+
+ A complexidade é a união da simplificação e da complexidade.
+
+ [...]
+
+ O pensamento complexo deve lutar contra a simplificação, utilizando-a
+ necessariamente. Existe sempre um duplo jogo no conhecimento complexo:
+ simplificar ----> complexificar. No duplo jogo, o complexo volta
+ \ /
+ ---------<--------´
+
+ incessantemente como pressão da complexidade real e consciência da
+ insuficiência dos nossos meios intelectuais diante do real (por isso,
+ o pensamento complexo é o pensamento modesto que se inclina diante
+ do impensável).
+
+ -- 432-433
+
+ O esforço da complexidade é aleatório e difícil. [...] É porque
+ integra aquilo que desintegra o pensamento que ela vive [a estratégia
+ do pensamento complexo], como tudo quanto é vivo, à temperatura da
+ sua própria destruição. [isto é citado novamente na página 438]
+
+ [...]
+
+ A complexidade é um termo-chave. Mas não é uma palavra dominante.
+
+ -- 435
+
+### Viver
+
+* Simmel, 440.
+* Simondon, 441.
+* Von Neumann, jogo, 446.
+* Organ, fervilhar ardentemente, 465.
+
+ O ser que nasce não pediu para viver, mas logo que nasce, só pede para viver.
+ Nenhum vivo quis viver, no entanto, todo o vivo quer viver.
+
+ -- 438
+
+ A definição de Bichat: "A vida é o conjunto das funções que resistem à morte."
+
+ [...]
+
+ Atlan formula o princípio complementar e antagônico do princípio de Bichat:
+ "A vida é o conjunto das funções capazes de utilizar a morte"
+ (Atlan, 1979, p. 278)
+
+ -- 439-440
+
+ Ninguém nasce só. Ninguém está só no mundo, no entanto cada um está só
+ no mundo.
+
+ -- 442
+
+ Os destinos são diferentes, desiguais, incomensuráveis, que seria absurdo
+ hierquizá-lo (sic). Mas certamente existem vidas infernais: parasitas,
+ subjugadas, subdesenvolvidas, atrofiadas...
+
+ -- 443
+
+### Manipulação da vida
+
+ A ação do homem sobre a vida começou desde a pré-história por domesticação,
+ sujeição, subjugação, e prosseguiu como manipulação através de hibridações
+ e cruzamentos. A manipulação alcança hoje o santuário dos genes.
+
+ [...]
+
+ Por um lado, há um ganho potencial de complexidade por elevação da produção
+ industrial do nível do artefato ao da organização viva. Existe redução
+ potencial do ser vivo ao estatuto do artefato e praticamente transformação
+ dos seres vivos em máquinas artificiais (já a criação industrial dos
+ porcinos e bovinos os transforma em puras e simples máquinas de fazer carne).
+
+ Assim, a progressão do industrial tornado vivo corre o risco de ser uma
+ regressão da vida, que vai se tornando industrial, tornando-se a
+ bioindústria o prolongamento tecnossociológico da manipulação experimental
+ que trata os seres celulares e pluricelulares como agrupamentos de
+ peças soltas.
+
+ Mais profunda e amplamente, está aberta a porta para a manipulação ilimitada
+ sobre a vida. Encontramo-nos no momento de uma tomada de poder decisiva.
+ Podemos imaginar, como me indica Gaston Richard, que os microorganismos
+ podem efetuar todas as operações naturais necessárias à nossa vida, inclusive
+ a fotossíntese, tornando assim obsoletas a nossa preocupação de preservar
+ ecossistemas: de onde a possibilidade de liquidação geral de todas as
+ espécies vegetais ou animais, deixando frente a frente, no Planeta Terra,
+ o homo e a Escherichia coli.
+
+ [...]
+
+ O novo poder sobre a vida será tão fundamentalmente controlador e tão
+ fundamentalmente incontrolador quanto foi a tomada de poder sobre a energia
+ atômica há quarenta anos. E concerne, mais íntima e fundamentalmente ainda, o
+ poder sobre o homem.
+
+ -- 469-470