aboutsummaryrefslogtreecommitdiff
path: root/books/filosofia/metodo/3.md
diff options
context:
space:
mode:
Diffstat (limited to 'books/filosofia/metodo/3.md')
-rw-r--r--books/filosofia/metodo/3.md140
1 files changed, 140 insertions, 0 deletions
diff --git a/books/filosofia/metodo/3.md b/books/filosofia/metodo/3.md
new file mode 100644
index 0000000..8f2960e
--- /dev/null
+++ b/books/filosofia/metodo/3.md
@@ -0,0 +1,140 @@
+[[!meta title="O Método - Volume III"]]
+
+[[!toc levels=4]]
+
+## Geral
+
+* Arqui-racionalidade, 59.
+* Simplificar <-> complexificar, 72-73.
+* Techne, 196.
+* Gênio, 204.
+* Tomada de consciência, 212.
+* Auto-análise, 216 (mas não só nessa página).
+* Idealismo: tomar a idéia pelo real, 248.
+* Racionalização: encerrar o real num sistema coerente, 248.
+* Auto-engano (self-deception), 249.
+
+## Paradoxo essencial do cérebro-espírito
+
+ O que é um espírito que pode conceber o cérebro que o produz, e o que é um
+ cérebro que pode produzir um espírito que o concebe?
+
+ -- 84
+
+## Princípio hologramático, holográfico
+
+ Daí a riqueza das organizações hologramáticas:
+
+ a) as partes podem ser singulares ou originais, embora dispondo de aspectos
+ gerais e genéricos da organização do todo;
+
+ b) as partes podem ser dotadas de autonomia relativa;
+
+ c) podem estabelecer comunicações entre elas e realizar trocas organizadoras;
+
+ d) podem ser eventualmente capazes de regenerar o todo;
+
+ No universo vivo, o princípio hologramático é o princípio essencial das
+ organizações policelulares, vegetais e animais; cada célula permanece singular,
+ justamente porque, controlada pela organização do todo (ela mesma produzida
+ pelas interações entre células), uma pequena parte da informação genética nela
+ contida se exprime; mas ela permanece ao mesmo tempo portadora das
+ virtualidades do todo, o que poderia, eventualmente, atualizar-se a partir
+ delas; assim, seria possível reproduzir por clonagem o ser inteiro a partir de
+ uma célula mesmo extremamente especializada ou periférica do organismo.
+
+ -- 115
+
+## Concepção: dialógica da analógica <-> lógica (digital)
+
+ As analogias organizadoras permitem a formação de homologias que suscitam
+ princípios organizadores. O raciocínio por analogia faz logo parte do caminho
+ que leva à modelização e à formalização, mas sob a condição de obedecer à
+ dialógica do analógico, do lógico e do empírico, ou seja, ao controle da
+ verificação dedutiva e da verificação empírica. Assim, constitui-se uma onte do
+ concreto ao abstrato e do abstrato ao concreto através da qual se tece e se
+ cria a __concepção__, insto é, um novo modo de organizar a experiência e de
+ imaginar o possível. Em consequência, reencontramos, no próprio procedimento
+ científico, mas de explícito, razoável e consciente, os métodos de
+ conhecimentos por isomorfismo, homeomorfismo e homologia que o aparelho
+ cognitivo utiliza espontânea e inconscientemente no conhecimento perceptivo e
+ discursivo.
+
+ -- 157
+
+ A analogica é iniciadora, inovadora (Peirce indicou que a inovação jorra quase
+ sempre da analogia), inclusive na invenção científica. Alimenta uma ligação
+ entre concreto e abstrato (via isomorfismos, tipologias, homologias) e entre
+ imaginário e real (via metáfora). Essas pontes, como já indicamos, estimulam
+ e provocam a __concepção__, isto é, a formação de novos modos de organização
+ do conhecimento e do pensamento.
+
+ -- 158
+
+## Inteligência artificial
+
+ No estádio evolutivo atual, o conhecimento por computador continua um apêndice
+ operacional do conhecimento humano; ainda não se trata do primeiro modelo de
+ um conhecimento sobre-humano. Não é proibido imaginar, para o futuro, máquinas
+ cognoscentes, artificiais no começo, e depois auto-organizativas e dotadas
+ de individualidade. Mas elas se tornariam então novos seres-sujeito que gozariam
+ e sofreriam com os seus conhecimentos, produziriam, talvez, os seus próprios
+ mitos e poderiam então manipular as coisas ou mesmo os seres humanos.
+
+ -- 226
+
+## Limites do conhecimento
+
+ O problema da caverna permanece. O problema da câmara fechada continua. Mas
+ sabemos doravante que a caverna nos permite ver sob a forma de sombras o que,
+ fora, nos cegaria; a câmara fechada, onde o cérebro permanece encerrado,
+ permite ao espírito abrir-se ao mundo sem se aniquilar.
+
+ -- 240
+
+ Nessas condições, somos aparentemente conduzidos à definição tradicional da
+ verdade: a adequação do espírito à coisa. Mas é preciso complexificar:
+ como a coisa é co-elaborada pelo aparelho cognitivo, vale mais conceber o
+ conhecimento como adequação de uma organização cognitiva (representação,
+ idéia, enunciado, discurso, teoria) a uma situação ou organização fenomenal.
+
+ Tal adequaçã não é evidentemente a de um "reflexo", mas o fruto de uma
+ reprodução mental. Tal reprodução não constitui a cópia, mas a _simulação_,
+ nos modos analógicos/homológicos, dos objeto, situações, fenômenos,
+ comportamentos, organizações.
+
+ Assim, a representação e a teoria podem ser consideradas, cada uma do seu
+ jeito, como uma reconstituição simuladora, uma concreta/singular, a outra
+ abstrata/generalizante.
+
+ [...]
+
+ Em nenhum caso, o conhecimento esgotaria o fenômeno a ser conhecido
+ e a verdade total, exaustiva ou radical é impossível. Toda pretensão
+ à totalidade ou ao fundamento resulta em não-verdade.
+
+ -- 244
+
+ Acrescente-se que a operacionalidade lógica, limitada aos enunciados
+ segmentados, encontra limite no aparecimento do nó complexo dos problemas e ao
+ atingir as camadas primordiais da realidade.
+
+ [...]
+
+ Acabamos pois além do realismo "ingênuo" e do realismo "crítico", além do
+ idealismo clássico e do criticismo kantiano, num _realismo relacional,
+ relativo e múltiplo_. A _relacionalidade_ vem da relatividade dos meios
+ de conhecimento e da relatividade da realidade cognoscível. A multiplicidade
+ diz respeito à multiplicidade dos níveis de realidade e, talvez, à
+ multiplicidade das realidades. Segundo esse realismo relativo, relacional
+ e múltiplo, o mundo fenomenal é real, mas relativamente real, e devemos mesmo
+ relativizar a nossa noção de realidade admitindo uma irrealidade interna
+ a ela. Esse realismo reconhece os limites do cognoscível e sabe que o
+ mistério do real não se esgota de forma alguma no conhecimento.
+
+ -- 245
+
+ Pensa por ti mesmo, e o método te ajudará.
+
+ -- 251
+