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| diff --git a/books/filosofia/metodo.mdwn b/books/filosofia/metodo.mdwn index d052345..7b96271 100644 --- a/books/filosofia/metodo.mdwn +++ b/books/filosofia/metodo.mdwn @@ -1,5 +1,126 @@  [[!meta title="O Método"]] +## Geral +      Método, originalmente caminhada.      -- 36 + +    Jogo. + +    -- 111 + +    O universo de fogo, substituindo o antigo universo de gelo, +    faz soprar o vento da loucura na racionalidade clássica, +    que ligava em si as ideias de simplicidade, funcionalidade +    e economia. O calor ainda comporta agitação, dispersão, +    ou seja, perda, despesa, dilapidação, hemorragia. + +    A despesa era ignorada onde reinava a ordem soberana. Esta +    significava, ao contrário, economia. A economia cósmica, +    física e política se fundava em uma lei geral do menor esforço, +    do menor atalho de um ponto a outro, do menor custo de uma +    transformação a outra. A verdade de uma teoria ainda se julga +    por seu caráter econômico com relação a seus rivais, mais +    dispendiosos em conceitos, postulados, teoremas. + +    -- 111-112 + +    A vida, acaba-se de ver, é a emanação da organização viva; +    não é a organização viva que é a emanação de um princípio vital. + +    -- 138 + +## Dependência entre sistemas + +    Há neste encadeamento sobreposição, confusão, superposição de +    sistemas e há, na necessária dependência de um em relação aos +    outros. + +    -- 128 + +## Simplexidade: a complexidade necessária da pragmática + +Numa segunda releitura da parte inicial d'O Método, confrontei minha noção de +simplexidade, ou complexidade necessária com o conceito de complexidade +moriniano. + +Há aí, à primeira vista, um óbvio antagonismo de pontos de vista: o simples, +reducionista, seria visto em oposição ao complexo, irredutível. + +O que ocorre, de fato, é que ambas as conceituações são complementares ao +prestarmos atenção à qualidade *necessária* da noção de simplexidade, que +nada mais é do que o estabelecimento de um nível de complexidade de entendimento +e uso do conhecimento para determinado fim. É necessário porque pragmático, +por exemplo para fins didáticos. + +Por quê o simples é sedutor? Pela sua facilidade. A pragmática reducionista +levou a ciência a várias revoluções. Sua sistemática facilitou enormemente +a pesquisa em ciência normal. Mas pode, como Morin aponta n'O Método, +circunscrever o conhecimento apenas naquilo que pode ser restringido a +conceitos simples e irredutíveis, o que cada vez mais se torna impossível: + +    O pensamento racionalista comporta um aspecto de racionalização demente +    em sua ocultação do gasto absurdo. + +    -- 111 + +Não se pode, então, confundir a pragmática de um nível de entendimento da +complexidade necessária da natureza como sendo a natureza de fato. No +uso da simplexidade, "travamos" temporariamente a espiral de conhecimento +para que dele possamos fazer um uso prático usando o que consideramos +conceitualmente mais importante, mais essencial em detrimento do desnecessário +e desimportante. + +Nisto, vale a formulação de Malatesta em seu texto A Organização II: + +    Antes de mais nada, há uma objeção, por assim dizer, formal. “Mas de +    que partido nos falais? Dizem-nos, nem sequer somos um, não temos um programa”. +    Este paradoxo significa que as idéias progridem, evoluem continuamente, +    e que eles não podem aceitar um programa fixo, talvez válido hoje, mas +    que estará com certeza ultrapassado amanhã. + +    Seria perfeitamente justo se se tratasse de estudantes que procuram a verdade, +    sem se preocuparem com as aplicações práticas. Um matemático, um quí- +    mico, um psicólogo, um sociólogo podem dizer que não há outro programa senão +    o de procurar a verdade: eles querem conhecer, mas sem fazer alguma coisa. +    Mas a anarquia e o socialismo não são ciências: são proposições, projetos que os +    anarquistas e os socialistas querem por em prática e que, conseqüentemente, +    precisam ser formulados como programas determinados. A ciência e a arte das +    construções progridem a cada dia. Mas um engenheiro, que quer construir ou +    mesmo demolir, deve fazer seu plano, reunir seus meios de ação e agir como se +    a ciência e a arte tivessem parado no ponto em que as encontrou no início de +    seu trabalho. Pode acontecer, felizmente, que ele possa utilizar novas aquisições +    feitas durante seu trabalho sem renunciar à parte essencial de seu plano. Pode +    acontecer do mesmo modo que as novas descobertas e os novos meios industriais +    sejam tais que ele se veja na obrigação de abandonar tudo e recomeçar do +    zero. Mas ao recomeçar, precisará fazer novo plano, com base no conhecimento e +    na experiência; não poderá conceber e por-se a executar uma construção amorfa, +    com materiais não produzidos, a pretexto que amanhã a ciência poderia sugerir +    melhores formas e a indústria fornecer materiais de melhor composição. + +    Entendemos por partido anarquista o conjunto daqueles que querem contribuir +    para realizar a anarquia, e que, por conseqüência, precisam fixar um objetivo a +    alcançar e um caminho a percorrer. Deixamos de bom grado às suas elucubrações +    transcendentais os amadores da verdade absoluta e de progresso contínuo, que, +    jamais colocando suas idéias à prova, acabam por nada fazer ou descobrir. + +    https://ayrtonbecalle.files.wordpress.com/2014/03/errico-malatesta-a-organizac3a7c3a3o-ii.pdf + +A simplexidade é justamente o reconhecimento do paradoxo que Malatesta coloca +entre a evolução contínua das ideias e a necessidade do aqui e agora de uma +escolha prática para a organização. + +Assim, minha brincadeira com Morin consiste em negar o reducionismo no próprio +conceito de simplicidade: em contraponto ao simples como irredutível, busco o +simples não-simples, o simples complexo, a complexidade do simples e a +simplicidade do complexo: antagonistas e complementares. + +Saber quando e como se utilizar de determinados níveis de complexidade para a +construção de entendimentos é uma arte. + +A simplificação pode ajudar a andar porém pode cegar da maioria das coisas que +existem e acontecem. Já a complexificação pode dificultar escolhas mas pode +abrir horizontes de compreensão. + +Há também uma ligação fundamental entre simplexidade e bem viver. | 
