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authorSilvio Rhatto <rhatto@riseup.net>2017-04-21 08:21:44 -0300
committerSilvio Rhatto <rhatto@riseup.net>2017-04-21 08:21:44 -0300
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index fba4bac..61c5761 100644
--- a/books/filosofia/metodo.mdwn
+++ b/books/filosofia/metodo.mdwn
@@ -976,6 +976,9 @@ Sujeito (220):
* Gênio, 204.
* Tomada de consciência, 212.
* Auto-análise, 216 (mas não só nessa página).
+* Idealismo: tomar a idéia pelo real, 248.
+* Racionalização: encerrar o real num sistema coerente, 248.
+* Auto-engano (self-deception), 249.
### Paradoxo essencial do cérebro-espírito
@@ -1045,3 +1048,101 @@ Sujeito (220):
mitos e poderiam então manipular as coisas ou mesmo os seres humanos.
-- 226
+
+### Limites do conhecimento
+
+ O problema da caverna permanece. O problema da câmara fechada continua. Mas
+ sabemos doravante que a caverna nos permite ver sob a forma de sombras o que,
+ fora, nos cegaria; a câmara fechada, onde o cérebro permanece encerrado,
+ permite ao espírito abrir-se ao mundo sem se aniquilar.
+
+ -- 240
+
+ Nessas condições, somos aparentemente conduzidos à definição tradicional da
+ verdade: a adequação do espírito à coisa. Mas é preciso complexificar:
+ como a coisa é co-elaborada pelo aparelho cognitivo, vale mais conceber o
+ conhecimento como adequação de uma organização cognitiva (representação,
+ idéia, enunciado, discurso, teoria) a uma situação ou organização fenomenal.
+
+ Tal adequaçã não é evidentemente a de um "reflexo", mas o fruto de uma
+ reprodução mental. Tal reprodução não constitui a cópia, mas a _simulação_,
+ nos modos analógicos/homológicos, dos objeto, situações, fenômenos,
+ comportamentos, organizações.
+
+ Assim, a representação e a teoria podem ser consideradas, cada uma do seu
+ jeito, como uma reconstituição simuladora, uma concreta/singular, a outra
+ abstrata/generalizante.
+
+ [...]
+
+ Em nenhum caso, o conhecimento esgotaria o fenômeno a ser conhecido
+ e a verdade total, exaustiva ou radical é impossível. Toda pretensão
+ à totalidade ou ao fundamento resulta em não-verdade.
+
+ -- 244
+
+ Acrescente-se que a operacionalidade lógica, limitada aos enunciados
+ segmentados, encontra limite no aparecimento do nó complexo dos problemas e ao
+ atingir as camadas primordiais da realidade.
+
+ [...]
+
+ Acabamos pois além do realismo "ingênuo" e do realismo "crítico", além do
+ idealismo clássico e do criticismo kantiano, num _realismo relacional,
+ relativo e múltiplo_. A _relacionalidade_ vem da relatividade dos meios
+ de conhecimento e da relatividade da realidade cognoscível. A multiplicidade
+ diz respeito à multiplicidade dos níveis de realidade e, talvez, à
+ multiplicidade das realidades. Segundo esse realismo relativo, relacional
+ e múltiplo, o mundo fenomenal é real, mas relativamente real, e devemos mesmo
+ relativizar a nossa noção de realidade admitindo uma irrealidade interna
+ a ela. Esse realismo reconhece os limites do cognoscível e sabe que o
+ mistério do real não se esgota de forma alguma no conhecimento.
+
+ -- 245
+
+ Pensa por ti mesmo, e o método te ajudará.
+
+ -- 251
+
+## Volume IV
+
+ Assim, a cultura não é nem "superestrutura" nem "infra-estrutura", termos
+ impróprios em uma organização recursiva onde o que é produzido e gerado
+ torna-se produtor e gerador daquilo que o produz ou gera.
+
+ [...]
+
+ Se a cultura contém um saber coletivo acumulado em memória social, se é
+ portadora de princípios, modelos, esquemas de conhecimento, se gera uma visão
+ de mundo, se a linguagem e o mito são partes constitutivas da cultura, então a
+ _cultura não comporta somente uma dimensão cognitiva: é uma máquina cognitiva
+ cuja práxis é cognitiva_.
+
+ -- 19
+
+ Nesse sentido, poder-se-ia dizer metaforicamrnte que a cultura de uma sociedade
+ é como uma espécie de megacomputador complexo que memoriza todos os dados
+ cognitivos e, portadora de quase-programas, prescreve as normas práticas,
+ éticas, políticas dessa sociedade.
+
+ -- 20
+
+ Por um lado, o imprinting, a normalização, a invariância, a reprodução.
+ Mas, por outro lado, os enfraquecimentos locais do imprinting, as brechas na
+ normalização, o surgimento de desvios, a evolução dos conhecimentos, as modificações
+ nas estruturas de reprodução.
+
+ [...]
+
+ Para tratar desses problemas, é preciso, antes de tudo, perguntar quais são as
+ possibilidades de enfraquecimento dos três níveis deterministas do _imprinting_
+ cognitivo (paradigmas, doutrinas, estereótipos), bem como sobre as possibilidades
+ de falha ou atenuação da normalização.
+
+ Em nossa opinião, são os seguintes:
+
+ - a existência de vida cultural e intelectual dialógica;
+ - o "calor" cultural;
+ - a possibilidade de expressão de desvios.
+
+ -- 33